Culto ao Tambor de Mina

Culto ao Tambor de Mina
Matinjalo meus amigos, irmãos e meus mais velhos. Me chamo Pai Jean de Xapanã e fui iniciado na Nação Mina-Jeje-Nago por Toy Voduno Francelino de Shapanan em São Paulo. Fui novice, fui vodunsi, fui vodunsirê e hoje sou Agunjai, um dos postos mais importantes dentro do Jeje ainda recebido das mãos de meu Pai. Tive a honra de ter sido o último barco de Agunjai dado por meu Pai. A última rama de Tobossi que saiu da casa de Toya Jarina. Uma grande honra poder completar essa obrigação pois, temos conhecimento que a última rama de Tobossi na casa de meu Pai, foi feita há 14 anos e, na casa de meu avó, há muito mais tempo. Em Salvador, nas casas Jeje, temos conhecimento que essa obrigação não era dada há mais de 25 anos. Isto prova a capacidade e a cultura de Pai Francelino e a casa das Minas de Toya Jarina. Dentro do Culto Jeje, sou Toy Azondelo. Tive a honra de ser o primeiro e o último Xapanan feito por meu Pai, honra essa me orgulha muito pois, um dia recebi as bençãos e a graça de Toya Jarina, pedindo para que eu fosse feito. Tive como madrinha Mãe Toya Mariana, a bela turca de Alexandria. Assim, ingressei para a família de Lego Shapanan, tornando-me filho de Francelino de Shapanan (que tinha como nome africano - Toy Akosakpata Azondeji), filho de Jorge Itaci de Oliveira ( Voduno Abê-Ka Dan Manjá), meu avô, que era filho de Maria Pia dos Santos ( Iraê Akou Vonukó). E, como tetravó, Basília Sofia ( Massionokom Alapong) que veio da África para o Brasil, da Nação Fanti-Ashanti e que aqui fundou o Ylê Axé Niamê, conhecido como Terreiro do Egito, tocando Mina Jeje-Nagô. Hoje digo a vocês: Manter a árvore genealógica, é mostrar para os outros onde nascemos, viemos e para onde vamos. Mostrando nossa identidade no Santo, é provar que temos um ancestral vivo e presente na nossa vida. Hoje ficamos muito tristes quando conversamos com pessoas da religião que não sabem sua identidade, sua ancestralidade. Se perdermos nossa identidade é como se tivéssemos perdido o nosso nome. E lembrem-se: preservar a ancestralidade é manter a tradição.Sou dirigente da Casa de Toy Lego Xapanã em Manaus. E, espero que meu Vodum abençoe todos nos dando Adoji aos nossos Oris. AXÉ AXÉ AXÉ

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Alabê

No dia 13 de Agosto deste ano de 2011, minha casa, Casa das Minas Reino de Dahomé de Lego Xapanã, recebeu com muita honra um presente especial: A confirmação de quatro Alabês. Cargo super importante em qualquer nação pois, sem eles, quase nada poderá ser realizado. Depois de passarem por todas as obrigações que são cabíveis a um alabê, este tem que ter a segurança em sua palavra e a firmeza nos seus atos em cada obrigação. Cada uma das obrigações realizadas em uma casa de santo, merece atenção especial do alabê e sintonia deste com seu Vodunon. Eles são as pessoas que fazem o movimento da casa.

Tanto num simples ebó, num tambor realizado para encantado, caboclo, orixás ou Voduns, como em uma iniciação é primordial os alabês saberem como irão realizar cada passo junto com seu Vodunon não esquecendo que seu papel mais importante é o bonotoio. Estou muito feliz com mais esse crescimento da casa, é por isso que luto tanto por nossa religião. Isto é o nosso reconhecimento, nossa luta, cada caminho percorrido em função do santo e este reconhecer nossa caminhada e amenizar os passos nos colocando em companhia de pessoas que também querem seguir os mesmos caminhos. Axé axé axé a todos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Tobossi

Meus irmãos, quero aqui, esclarecer para vocês um pouco de nossos rituais do Tambor de Mina. Somos de uma religião tão grande em cultura, tão rica de conhecimento e tão vasta em seus ensinamentos que não deixa a desejar a nenhuma outra.
“A Mina não é ABC, nem é escola que se aprende a ler...”
Quero compartilhar com vocês meus aprendizados, pois, compartilhando a minha história estou preservando a memória ancestral de meu pai, Toy Vodunon Francelino de Shapanã, pois, sem ele, nada disso teria acontecido. Sou muito honrado por ser seu filho e agora ele também sendo meu pai ancestral.
Quem quer esquecer o seu passado é porque tem medo de um futuro glorioso.
Em 2005, fiz parte da última rama das Tobossis na casa de meu pai Toy Vodunon Francelino de Shapanã. Obrigação esta realizada ainda em vida por ele. Fiquei muito honrado pois essa obrigação não era dada na casa de meu pai haviam 14 anos, e pude fazer parte desta última rama junto com meus mais velhos e meus mais novos, recebendo o título de Agunjaí.
As Tobossis são voduns crianças exclusivamente femininas pertencentes ao culto Mina Jeje, muito diferentes dos erês da nação ketu em que há crianças masculinas e femininas. As Tobossis são princesas pertencentes à nobreza africana do antigo Dahomé, atual Benin. São muito dengosas, delicadas e seus rituais requerem, como em qualquer outro ritual para vodum, atenção especial por se tratarem de princesas. Estão sempre acompanhadas de Nochê Naê, matriarca da família Davice e chefe das Tobossis, sempre fazendo parte de suas festas que ocorre duas vezes no ano ( uma em junho e outra em no fim do ano) e no carnaval onde elas passam na cabeça de seu agunjaí vários dias. Dançam, comem, dormem e também preparam as frutas e as comidas para seus rituais. O ritual que é feito para elas é chamado de torração ou Arrambam. Gostam de festas, e dos mimos que lhe são oferecidos pelos demais filhos da casa e pelo seu dirigente. São puras, adoram brincar com bonecas e com outras crianças, também de distribuir doces e sentar junto a todos na hora das refeições. Suas vestimentas requerem muito zelo e muita atenção devido aos detalhes que envolvem a preparação de cada um de seus apetrechos. São bastante elaborados. Usam saias, panos, pulseiras com muitas cores e uma manta com miçangas coloridas que fica presa ao pescoço chamada de ahungelê. Essa manta é preparada como se fosse uma identidade, conforme a história do vodum da Tobossi, sua família e do agunjaí. Algo particular, único e pessoal. Outros fios de outros voduns também podem fazer parte da indumentária das Tobossis, porém, somente quem tem Tobossi, ou seja, quem é agunjaí, está autorizado a usar a manta. As Tobossis possuem o processo da ancestralidade. Elas pertencem ao ancestral daquele filho que as recebe. Elas vem exclusivamente neste filho e este, vindo a falecer, não descem em nenhum outro, sua missão é dada por encerrada.
O Tambor de Mina possui dois nomes africanos: Um exclusivamente de seu Vodun e outro exclusivo da Tobossis. Eu sou Toy Azondelo pelo meu Vodum e, como meu padrinho de santo, prof. Reginaldo Prandi cita em seu livro – Nas Pegadas dos Voduns, o meu nome de Tobossi é Azonmeunsi.

Meu pai era um legítimo paraense, minha vó também era paraense porém, pai Francelino não se limitou. Foi buscar no Maranhão sua grande fonte de conhecimento. E hoje, entendo porque ele tanto buscou esta terra de encantos e magias. Vemos que ainda encontramos pessoas capacitadas e que conseguiram absorver este culto magnífico. Estou falando de José Itaparandi ou Toy Vodunon Itaparandi de Badé do Terreiro Pedra de Encantaria. Tive a honra de participar da bancada das Tobossis em sua casa e presenciar que tudo aquilo que meu pai me ensinou, nossa África maranhense não havia perdido sua raiz. Hoje pai Itaparandi é meu amigo pessoal. Um homem, um sacerdote do culto de Tambor de Mina, que buscou novos horizontes e se firmou em sua terra encantada. Possui formação superior em turismo, conseguiu fincar as raízes da nossa religião na política tornando-se um dos vereadores mais votados de São Luís e conseguiu transmitir para os seus, todo o conhecimento adquirido no Sítio do Justino. Tenho um grande presente dado por ele, o Encantado D. João Rei das Minas. Assentamento este vindo diretamente do Maranhão para o Amazonas dentro de seus ritos e mitos. Hoje é o Encantado que toma conta de alguns rituais na minha casa. E hoje, pai Itaparandi é meu pai de encantaria.
Axé a todos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Casa das Minas Reino de Dahomé de Lego Xapanã

O Tambor de Mina, religião de matriz africana, que, atravessando o continente brasileiro firmou sua raiz no Maranhão em meados do século passado, tendo como grande referência dessa época até os dias de hoje a Casa das Minas e a Casa de Nagô. Da formação dessas duas casas sairam as duas raízes: Jeje e Nago.
A Casa das Minas segue a tradição Jeje, e tem seu culto exclusivo aos voduns, apartir de Zomadono, Vodum real da casa. Não se forma a encantaria nesta casa, somente Voduns e Orixás. Seguindo a tradição do antigo Dahomé, hoje, podemos afirmar que o culto na Casa das Minas é puro Jeje. É tão puro como sua matriz africana. Não podemos nunca separar nossa Mãe África de nossas raízes, pois ainda vai ser o nosso útero na geração aos Voduns.
Vemos que as casas tradicionais, até mesmo de Salvador, de nação de candomblé, cultuavam também Voduns Jeje, e, isso podemos ver o seu diferencial de Vodum ao Orixá.
Essa tradição Jeje sempre preservou a lei do bonotoio (segredo), para que somente de Vodum para Vodum pudesse aprender. Quando deixamos a nossa energia falar por nós, mostramos que somos bons filhos e que obedecemos os nossos pais. Quando falamos por eles, mostramos que ainda não estamos preparados para seguir a nossa tradição. Pois, um sábio já dizia: “ do escutar vem a sabedoria e do falar o arrependimento”.
Afinal, quem age em você é seu Vodun e não você que age nele. Quem vem à terra é seu Vodun trazendo sua nobreza para que possamos entender que, como simples ser humanos conseguimos transformar esta força nobre em matéria.
O Tambor de Mina, ou melhor, a Mina como é mais conhecida, foi com suas nascentes brotando suas ramas (filhos) e estes por sua vez forma brotando seus filhos, unindo seu laço com a Casa de Nagô em uma travessa podendo se estender mais ainda este povoado.
Na Casa de Nago o culto não se restringe apenas aos Voduns, mais também aos Orixás, encantados e caboclos. O que favoreceu ao culto perpetuar ainda mais suas raízes levando à abertura de casas não apenas em São Luís mais no Brasil inteiro.
Uma casa que posso citar, saída da Casa de Nago, é o Terreiro do Egito localizado no Maranhão de onde se  proliferaram tradicionais casas de Tambor de Mina em São Luís do Maranhão. Uma delas é a casa de meu avô, Casa de Abê Manjá de Pai Jorge Itaci de Oliveira, ou como mais conhecido, Jorge Babalaô Kadamanjá. Onde meu pai cumpriu suas obrigações na tradição Tambor de Mina.
Toy Vodunon Dada Lailá Francelino de Shapanan, um dos maiores renomes do Tambor de Mina e um dos que mais lutou para propagação de sua raiz, foi um dos que mais estendeu o culto no estado de São Paulo, o qual não deixou cair nossa tradição, fortificando nossa família com seus descendentes, filhos, filhas, netos e bisnetos, estendendo o culto para outros estados como o Amazonas. Sem deixar que a tradição chegasse a um fim, Pai Francelino, levou a tradição do Tambor de Mina ao topo, sendo um dos Sacerdotes com mais títulos e Oyês até mesmo em outras nações. Tendo sido homenageado pela ONU, UNESCO entre outros.
Na sua grande extensão, se forma no Amazonas, na cidade de Manaus, a Casa das Minas Reino de Dahomé de Lego Xapanã, no qual sendo eu, Toy Voduno Azondelo de Xapanã, seu dirigente. Fui novice, fui vodunsi, fui vodunsirê e hoje sou Agunjaí, um dos maiores cargos no Tambor de Mina ainda dado em vida por meu pai Francelino de Shapanã. Me orgulho muito disso, pois consegui escutar os meus mais velhos, aprender com eles e respeitar os meus mais novos.
Fui o único Xapanã feito pela mão de meu pai, carregando comigo suas descendências africanas, como meu senhor Xapanã, como minha senhora Nochê Sogbô e Toy Dossú. Esta era a descendência de meu pai.
Em minha casa, cada fundamento foi ainda assentado em vida pelo meu pai. Quero dizer com isso, para meus mais novos, que fui honrado em manter a mão de meu pai e a tradição por ele deixado na minha casa continuando e mantendo a tradição ao Tambor de Mina. Hoje, apenas acrescentei o que aprendi com os meus mais velhos: “Manter a tradição é preservar a ancestralidade”, pois, se somos descendentes de todas as nossas origens africanas vemos então o papel grandioso da nossa ancestralidade.

Kouvitoh - A passagem para o culto pelo Tambor de Mina

Na casa de meu pai, sempre tivemos no dia 02/11 o culto aos ancestrais através da família da Gama. E eu, Pai Jean de Xapanã, fui um pouco mais longe nisso. Trouxe para dentro de nossa casa o culto aos ancestrais (Kouvitoh) através do Babalawô e Ojé Ifagbenusola, que mantém o título dado por sua família africana de Vodunun Fá, ampliando ainda mais nossos conhecimentos mantendo uma tradição tão pura quanto na África através do seu culto e de sua tradição, afunilando o contato com a família Aworeni.
 Babalawô Ifagbenusola, também possui na Casa da Minas Reino Dahomé de Lego Xapanã o título de Alagbê Sobatoh de Lego Xapanã. Eu, pai Jean, possuo o título de Babá Somi e minha esposa, mãe pequena de minha casa, possui o título de Yatonã em sua casa, localizada  em Maricá - RJ. É uma das pessoas mais reconhecidas dentro do culto Kouvitoh.

Hoje vemos que nosso relacionamento com nossos irmãos africanos gerou um estreitamento através das famílias que se uniram em laços mais fortes e sólidos como aos que os nossos ancestrais almejavam quando foram forçados a saírem de suas terras para enfrentarem o desconhecido Brasil ainda por ser explorado. Constatamos que não precisamos ir até eles beber na fonte, pois, temos fontes tão limpas e puras quanto na África e Babá Ifagbenusola raspou até o final da cuia. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Querem que eu deixe de ser negro

Fui tirado do colo de minha mãe África pelos estrangeiros desconhecidos, para limpar seus sapatos, cortar suas canas e colher seus cafés, sem nem mesmo os conhecer. assaltaram minha alma, roubaram meu espírito e prenderam a minha identidade. Hoje o negro é sinônimo de discriminação. 
Tudo que se refere ao negro sempre teve o tom da discriminação. Podemos até mesmo verificar que na escolha de um papa a fumaça preta não confirma a escolha de um deles e sim a branca. Por que não a preta? Será que apenas o branco simboliza pureza? Se formos levar por composição, o branco é a junção de cores e o preto a ausência delas. Qual será o puro?
Quando se trata de magia, as pessoas sempre colocam: magia negra. Magia não tem cor. Quando os anjos, por ordem de Deus, destruíram Sodoma e Gomorra, qual magia eles usaram? A branca ou a negra?
Vocês sabem porquê a magia não tinha cor? Porque era de religião dos brancos. De tudo que os negros construíram, o bonito ficou para os brancos. O trabalho árduo e sofrido foi do negro.
Mas hoje conseguimos dar a volta por cima. Hoje, conseguimos que até um branco como eu, aderisse a religião do negro com sabedoria e orgulho sem deixar a desejar a nenhuma outra religião. Posso ser branco na cor, mas sou negro na alma. Essa é minha opção não por desmerecer outras religiões, pois hoje estamos em pé de igualdade em saber que a religião não tem cor, raça e nem nacionalidade.
Muito orgulha muito hoje os meus irmãos ocupando cargos majoritários e de grande importância pelo nosso Brasil, já que não deram importância pelo que construíram. Hoje podemos ver que até mesmo o Presidente dos EUA é negro. Hoje vemos grandes universidades abrindo suas portas para que a religião afro brasileira adentre  com seus conhecimentos para passar para os alunos em palestras e congressos um pouco sobre nossa religião. Hoje, com muito orgulho, encontramos grandes congressos por nosso país afora, em que estão presentes, padres, pastores, muçulmanos, babalorixás e outros com um só pensamento: buscar a paz entre as religiões, sabendo que religião não salva ninguém  e sim suas práticas  e atos para com o próximo.
Finalizando, a religião é um berço de memórias com todos aqueles ancestrais que pagaram com suas vidas para que pudéssemos estar aqui para dizer: SOU AFRO DESCENDENTE.

Encantaria Brasileira

O culto dos encantados é parte muito importante do Tambor de Mina, está ausente apenas na Casa das Minas, onde se cultuava exclusivamente os Voduns, deuses Jeje. Na Casa Nagô Abioton, Cultua-se Voduns, Orixás, Encantados ou Caboclos. Duas casas centenárias no Maranhão. Infelizmente, apenas a segunda ainda encontra-se com suas atividades até os dias de hoje.
Os encantados/caboclos, são espíritos de reis, nobres, índios, turcos, etc.. Em muitos terreiros, têm o mesmo status de divindades dos Voduns, se misturando muitas vezes em pé de igualdade a estes em rituais, cerimônias e respeito.
Pai Francelino com D. Jarina
Do Maranhão, o Tambor de Mina propagou-se pelo Pará, onde encontrou novos sincretismos e assimilações a partir do contato com a pajelança, culto de origem indígena. Isso acontece devido a necessidade do encantado fazer suas viagens, imigrando para outras terras ( como Pará e Amazonas), onde encontram outras culturas, lendas e  se adaptam aos costumes locais, dando nomes de caboclos e entrando para os cultos da umbanda e do candomblé dentro do Tambor de Mina. 
Fazendo uma comparação interessante, D. Jarina tinha o nome de Princesa da Praia do Lençol na cabeça de meu pai (foto ao lado) e no Pará e Amazonas recebe o nome de Cabocla Brava. Outro exemplo é o Caboclo Ubirajara, que é o segundo turco mais antigo na família da Turquia e desce na umbanda como Caboclo Ubirajara do Peito de Aço.
Muitas festas de encantados são comemoradas em festas de santos católicos devido a esses sincretismos. O encantado de meu avô Babalawô Jorge Itaci, fazia a festa do boi de seu Légua no dia de festa junina, que é comemorada em dias de santos católicos. E muitas outras festa são comemoradas como por exemplo em dia de Santa Bárbara, São Benedito e muitos outros. O caboclo, como já dito acima, se adapta aos costumes locais, pois, tem consciência que isso não faz ele se diminuir ou se baixar para outra cultura e sim, mostrar que a terra é dele. Temos que ter a consciência de que o caboclo é o dono da terra. Pai Euclides, disse uma vez que, nos seus primórdios, já se escutava cantar na Casa de Nagô Abioton, a canção de caboclos velhos: "Eu sou caboclo, eu sou de guerra, fui o primeiro que cheguei aqui na terra..." Por isso, que não importa aonde o caboclo vá, mais ele levanta a bandeira do Vodum, do Orixá ou até mesmo do Inkisi.
Avô Jorge com D. Luís 
Não esqueçamos que ele era o dono da terra e teve seu espaço roubado pela invasão do asfalto, pela modernização, não tendo nem o direito a um pedaço de terra para ser cultuado. Quando finalmente encontra um espaço para realizar seu culto no terreiro, e quando se pensava que não havia mais nada para implicarem com seu culto, já haviam lhe tirado tudo. Agora dizem que somos adoradores do diabo. Sabem de que diabo eles falam? Do diabo que julga, do diabo que mata, do diabo que rouba as culturas. Quem será realmente o diabo?
Quero que vocês entendam que o portal dos encantados não é o mesmo dos Voduns. O Vodum quando imigra, é o mesmo vodum, porque o Vodum é um absorvedor da cabeça e o encantado da matéria. Por isso o encantado se sente materializado, tendo suas vontades como a de um ser humano.
E que vontades seriam essas? De se vestir, aprender suas danças e seus costumes. Daí o sincretismo sempre presente.
Aprendemos que o encantado está mais perto da gente do que as divindades Voduns e Orixás e, através do contato com a mata, rios e cachoeiras.
Daí vocês podem perguntar: Mais o Vodum não tem o mesmo contato? Não, para ficarmos mais perto  do Vodum precisamos da iniciação ao culto, enquanto que com o encantado não existe essa iniciação. Podemos ver isso claramente em certas situações no interior. Quando se diz: o fulano recebeu um caboclo e está atendendo como pai de santo. Um erro -  por eu receber caboclo, não posso me intitular pai de santo. As pessoas precisam ter conhecimento do que se recebe pois a ignorância leva a decepção. Acima do caboclo, do encantado, há o vodum ou orixá. E haverá cobrança de santo, pois, quem guia a cabeça é o vodum  e não o corpo.
Dentro deste seguimento, ninguém quer ser filho, todos querem ser pai e não há começo sem um fim. Hoje em dia, é muito mais fácil se tratar com cartas ou outros meios de adivinhações mais fáceis do que com uma entidade que poderá dar respostas muito mais rápidas e precisas sobre seu caminho, embora às vezes, sendo duras ou não, mais não menos realista.
O poder do encantado não se limita às influencias religiosas, pois o encantado tanto pode falar da religião dele como das demais. Seu conhecimento de vivencia é muito mais amplo do que podemos imaginar.
O encantado não pára de existir, o filho sim. Muitas vezes, o encantado era tão apegado ao filho que este, ao vir a falecer, seu encantado não descia mais em nenhuma cabeça, muitas vezes por saudades do filho outras por não haver ninguém que pudesse recebê-lo. É uma magia tão forte e difícil de entender. Porque o espírito não tem coração e nem sentimento, mais sim razão.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

São Cosme e São Damião

A Festa de São Cosme e São Damião é realizada todos os anos no dia 27 de Setembro. É uma festa que eu particularmente, tenho muito orgulho em realizar, pois é quando liberamos a criança que existe dentro de cada um de nós para ajudarmos outras crianças. O processo se inicia meses antes, em que se faz o resgate de brinquedos e bombons para que a festa seja uma marco a cada ano que é realizada.
 Nos dias que antecedem, nos preocupamos com a decoração, arrumação e com os doces, bolos, e guloseimas que também serão doados. Todos da casa, entre filhos e amigos, se envolvem, e o resultado é a superação de cada ano poder realizar uma festa cada vez maior em números de doações. São atingidas, crianças e adultos de todas as faixas e classes sociais.
 A festa é tão tradicional que, no dia, as pessoas começam a fila para receberem suas doações ainda com o dia claro. É uma festa organizada, segura, em que as pessoas recebem seus donativos sem tumultos e todos saem satisfeitos. Muito me orgulha de realizar isto todos os anos.
Cosme e Damião eram irmãos gêmeos, médicos de profissão e santos na vocação da vida. Viveram no Oriente e, desde jovens eram habilidosos médicos. Com a conversão passaram a ser também missionários. Aproveitando o poder da ciência com o poder da oração, levaram muita saúde do corpo e da alma para as pessoas que deles necessitavam.
Com a perseguição da igreja em acusá-los de bruxaria, foram perseguidos, presos e decapitados. Na religião foram sincretizados como os ibejis, mas não confundam com eres.
Em sua festa, se agrada as crianças para que eles fiquem alegres e satisfeitos com as oferendas.











A Relação Terreiro - Comunidade

A casa das Minas Reino Dahomé de Lego Xapanã, fundada por Toy Voduno Azondelo de Xapanã, pertence ao culto Mina-Jeje/Nagô, encantaria e caboclos. Existente há 15 anos, mantém a tradição de Pai Francelino de Shapanã e do bonotoyo, lei do silêncio perpetuada na nação Jeje. Realiza seus rituais secretamente e somente abre suas portas para convidados em dias festivos. Realiza trabalhos junto a comunidade como: doação de alimentos, roupas, brinquedos entre outros, assim como prestando serviço de resgate de jovens e adultos com problemas de dependência química. Almejamos também, um projeto futuro de uma oficina para atender melhor a comunidade através de cursos profissionalizantes tais como: corte e costura, manicure, cabeleireira, bordado, pintura e computação. Nosso objetivo com esse trabalho social é integrar a comunidade ao terreiro buscando harmonizar as culturas de nossa cidade sem interferir no livre arbítrio  religioso de cada um, mostrando para a sociedade que nossa religião não se utiliza apenas das ervas da natureza em busca de cura, podemos também, através da espiritualidade levar conforto a quem precisa. Participamos também de projetos culturais levando um maior conhecimento sobre a religião a quem possa interessar. 

Projeto Escola no Meu Terreiro

O Projeto Cultural no Meu Terreiro, tem como objetivo integrar a sociedade a uma cultura rica, vasta e repleta de controvérsias: Cultura Africana. Através de palestras, vídeos e amostras culturais, fazemos uma volta aos nossos antepassados, afim de entendermos como e por que a África vive em nós e compreendermos como temos tanto desta cultura presente em nossas vidas, em nosso dia a dia.
A globalização uniu raças, culturas, povos e etnias, trazendo a memória esquecida do negro na senzala e onde hoje resgatamos as riquezas de sua cultura para apresentar neste projeto, buscando acabar de vez com o preconceito a esta religião tão antiga e tão rica pelos seus ensinamentos afro descendentes. Levando para as instituições de ensino uma cultura que vai além da religião, mostrando sua culinária, vestimentas, costumes e dialetos. Deixando de ser material de pesquisa pra virarmos pesquisadores, pois não podemos acreditar que o Brasil, construído através de um povo que lutou pela melhoria de um mundo mais humano, e acharmos normal que tudo isso foi construído através da escravidão e que apenas isto que eles nos deixaram. O negro contribuiu com a culinária brasileira, com a mistura das raças, com o dialeto, com as danças e muito mais.
Prof. Marlon, Filho de santo da casa e grande colaborador no projeto
As palavras moleque, tamanco, sunga entre outros, vieram do dialeto fon. Tirando também a feijoada, o vatapá, o acarajé... Nas danças temos o samba, a capoeira como danças pagãs.
Devemos parar de negar informações onde tudo se inicia: a sede de conhecimento de jovens e adultos dentro de uma escola principalmente dentro de uma universidade que irá nos ajudar a formar indivíduos formadores de opinião quebrando certos preconceitos e tabus.
Queremos oferecer a oportunidade de vivenciar dentro de nossa casa a nossa tradição afro brasileira e toda a riqueza que o negro nos deixou.
Nossa casa vem de uma árvore de tradição cultural do Maranhão se estendendo à São Paulo. Meus antecedentes levaram essa cultura a um maior nível dentro do Estado de São Paulo e Maranhão, tendo ganho títulos de honra ao mérito entre outros. Meu genitor espiritual foi e continua sendo até hoje, um dos sacerdotes com mais títulos recebidos: UNESCO, ONU, Comendas diversas e Títulos até mesmo em outras religiões.
Nossa casa vem através de mim, Toy Azondelo de Xapanã, que recebi um dos maiores títulos dado por meu genitor como guardião dos segredos desta religião, agradecer a todos por dar esta oportunidade de contribuir com a nossa cultura.
Este projeto é um grande passo que as universidades estão dando em relação a abertura de suas vertentes para o enriquecimento do conhecimento em seus cursos para religiões de matriz africana. Estamos tendo a oportunidade de trazer para dentro da Casa das Minas de Reino Dahomé de Lego Xapanã, na direção de Toy Azondelo de Xapanã, algumas turmas para debatermos sobre a religião. Demos início, abordando o tema Tambor de Mina, esperamos que sejam esclarecidos muitos assuntos e dúvidas relacionadas a religião e ganhar com isso, um pouco de respeito, esperando que nossa mensagem seja levada para outras pessoas de que a religião vem de uma cultura riquíssima e não foi inventada. Existe há milênios e sobreviveu até os dias de hoje, com muito sacrifício, luta e até morte de nossos antepassados negros que chegaram a esta terra como escravos, viveram em condições subumanas, mais que mesmo assim, não deixaram suas raízes esquecidas e conseguiram que hoje, eu e vocês que estão disponibilizando seu tempo para estarem lendo esta postagem, estivéssemos falando sobre a religião de matriz africana.

O preconceito é formado pela falta de conhecimento!

Não estamos almejando nenhum adepto para a religião. Não temos essa pretensão. Queremos levar conhecimento sobre nossas raízes religiosas  e de nossos ancestrais para que as pessoas, independentes de sua religião, possam conhecer, tirar suas dúvidas e aprender a respeitar essa religião tão rica em cultura e valores.
Parabéns aos coordenadores de cursos, ao reitor, e a todas as pessoas que apoiaram e apoiam esse projeto de levar a sala de aula para um terreiro. Quebrando barreiras, abrindo fronteiras e libertando seus alunos para serem futuros formadores de opinião respeitando a individualidade alheia. É o nosso Amazonas quebrando preconceito e se desnudando para novos horizontes. Precisamos de mais oportunidades como essa. Só assim teremos o respeito tão almejado, levando nossa mensagem de que não somos adoradores do mal. Queremos o sucesso das pessoas. Essa ideia da igreja de nos atacar e ficarmos sem nos defender, tem que acabar. Precisamos eleger políticos que nos deem atenção e suporte para esclarecermos nossa vivencia. O preconceito tem que acabar. Precisamos gritar para os quatro cantos o que somos. A religião está muito além disso.

Festa de D. Chica Baiana

D.Chica Baiana. Encantada dirigente de minha casa. Lady como só ela sabe ser, diz suas verdades sem temer a quem está ouvindo. É doce e rígida, comanda esta casa com muito zelo e dedicação de mãe, protegendo os seus com todo seu amor. Sua festa é no dia 14 de agosto na minha cabeça e faço todos os anos com muito gosto em retribuir tudo que recebo desta encantada tão sublime e justa em suas ações.
Pertencente à família da Baía, que não quer dizer que seja do estado da Bahia segundo o Tambor de Mina, mas de um lugar pertencente a um mundo invisível (Nas pegadas dos Voduns - Reginaldo Prandi.), tem como integrantes da família seu Baiano Grande, Constantino, Chapéu de Couro, Mané Baiano, Rita de Cássia, Corisco, Maria do Balaio, Zeferino, Silvino, Baianinho, Zefa e Zé Moreno. São caracterizados pelo bom humor, alegria, brincalhões e muito falantes.
Encantados são espíritos que passaram por uma vida na terra. Viveram entre nós, porém, não conheceram o processo da morte. Ao morrer, se encantaram, ou seja, nunca encontraram o corpo material para ser feito um funeral. Então se diz que se encantou, voltando apenas para ajudar os que dela se necessita. São agrupados em famílias, que não quer dizer que possuem a mesma descendência. Apenas que possuem características semelhantes.

Oração à Encantada Chica Baiana

Oração a Chica Baiana
A minha senhora, dona dos meus caminhos quero agradecer por me escolher, por estar sempre ao meu lado, me guiando, protegendo e ouvindo minhas súplicas.
Nunca me deixe caminhar só. Que a senhora sempre esteja segurando minhas mãos e que nada nem ninguém me afaste do teu amor.
Tira as vendas dos meus olhos, as pedras do meu caminho, me torne uma pessoa melhor, tira de mim as perturbações espirituais, tira também tudo aquilo que me afasta da minha evolução espiritual, me livra do mal que anda de dia e a noite, que os maus olhos não me veja e nem me seque, me livra dos inimigos que me abraçam e dos que me perseguem que eles não tenham força em me fazer o mal, Guarde minha entrada e também minha saída, a minha família.
Minha senhora Chica Baiana quero contigo está, me mostre o caminho certo que devo prosseguir, obrigado por tudo, pelas conquistas e também as batalhas perdidas que se tornaram motivação para seguir na fé.

Obrigado Chica Baiana.
Salve o povo da Baia,
Saravá Chica Baiana
Salve o povo da Baia,
Salve o senhor do Bom Fim


Seu Zé Pilintra


               Seu José Gomes da Silva, esse é o nome como alguns atribuem o mito que gira em torno da pessoa que foi em vida Seu Zé Pilintra. Nascido no interior do Estado de Pernambuco, um negro forte e ágil, grande jogador e bebedor, mulherengo e brigão. Manejava uma faca como ninguém, e enfrentá-lo numa briga era o mesmo que assinar a própria sentença de morte. Os policiais já sabiam do perigo que ele representava. Dificilmente encaravam-no sozinhos, sempre em grupo e mesmo assim não tinham a certeza de não saírem bastante prejudicados das pendengas em que se envolviam. Tinha bom coração e como todo boêmio que se preze, muitas mulheres se deixavam conquistar por este grande galanteador que sabia desfrutar das coisas boas da vida. Despertou muita inveja de outros homens que se sentiam menosprezados numa mesma festa em que ele se encontrava. Como bom farrista, não entrava num jogo ou briga que não fosse para ganhar e estava sempre rodeado de belas mulheres.
              Essa é uma das inúmeras teorias sobre quem foi a entidade mais conhecida no mundo espiritual.
              O que temos certeza sobre sua personalidade única é encontrada nos mais diferentes centros da religião de cultos afro-brasileiros e centros espíritas e em suas cantigas, que narram sua trajetória em vida carnal assim como, a sua passagem para a vida espiritual. Muito boêmio e galanteador, não dispensa uma boa conversa e elogios às mulheres. Sabe entrar e sair de qualquer lugar. Como um bom malandro, não dispensa uma roda de samba, e desliza seus passos firmes e charmosos por onde passa. Gosta de andar com elegância. Sua vestimenta mais famosa, retratada em diversas imagens e desenhos, é o tradicional terno e calça brancos, blusa de listras vermelhas, sapato bicolor e o inconfundível chapéu Panamá. Ajuda quem dele precisa e, muitas vezes, dispensa suas verdades nas mais variadas brincadeiras que solta em meio às conversas. Para bom entendedor...
              A prova de que essa grande entidade realmente passou por nosso mundo, está estampada em inúmeras cidades desse nosso país, mais precisamente no Rio de Janeiro, onde presencia-se uma verdadeira demonstração de carinho e respeito por esse boêmio e trabalhador nas letras de músicas e vestimentas de sambistas e nas manifestações culturais nesse nosso país afora. Salve seu Zé Pilintra.
            




Ilustrações retiradas livremente da internet.



Festa de Ogum 2011



Dia 26 de Abril de 2011 aconteceu Festa de Ogum com distribuição da tradicional feijoada para a comunidade do Riacho Doce, Bairro Cidade Nova - Manaus, Am. Ao todo, 500 feijoadas são distribuídas anualmente. A festa dura o dia inteiro. Os festejos começam três dias antes e incluem os rituais de preparação e orações para o Vodum.