Culto ao Tambor de Mina

Culto ao Tambor de Mina
Matinjalo meus amigos, irmãos e meus mais velhos. Me chamo Pai Jean de Xapanã e fui iniciado na Nação Mina-Jeje-Nago por Toy Voduno Francelino de Shapanan em São Paulo. Fui novice, fui vodunsi, fui vodunsirê e hoje sou Agunjai, um dos postos mais importantes dentro do Jeje ainda recebido das mãos de meu Pai. Tive a honra de ter sido o último barco de Agunjai dado por meu Pai. A última rama de Tobossi que saiu da casa de Toya Jarina. Uma grande honra poder completar essa obrigação pois, temos conhecimento que a última rama de Tobossi na casa de meu Pai, foi feita há 14 anos e, na casa de meu avó, há muito mais tempo. Em Salvador, nas casas Jeje, temos conhecimento que essa obrigação não era dada há mais de 25 anos. Isto prova a capacidade e a cultura de Pai Francelino e a casa das Minas de Toya Jarina. Dentro do Culto Jeje, sou Toy Azondelo. Tive a honra de ser o primeiro e o último Xapanan feito por meu Pai, honra essa me orgulha muito pois, um dia recebi as bençãos e a graça de Toya Jarina, pedindo para que eu fosse feito. Tive como madrinha Mãe Toya Mariana, a bela turca de Alexandria. Assim, ingressei para a família de Lego Shapanan, tornando-me filho de Francelino de Shapanan (que tinha como nome africano - Toy Akosakpata Azondeji), filho de Jorge Itaci de Oliveira ( Voduno Abê-Ka Dan Manjá), meu avô, que era filho de Maria Pia dos Santos ( Iraê Akou Vonukó). E, como tetravó, Basília Sofia ( Massionokom Alapong) que veio da África para o Brasil, da Nação Fanti-Ashanti e que aqui fundou o Ylê Axé Niamê, conhecido como Terreiro do Egito, tocando Mina Jeje-Nagô. Hoje digo a vocês: Manter a árvore genealógica, é mostrar para os outros onde nascemos, viemos e para onde vamos. Mostrando nossa identidade no Santo, é provar que temos um ancestral vivo e presente na nossa vida. Hoje ficamos muito tristes quando conversamos com pessoas da religião que não sabem sua identidade, sua ancestralidade. Se perdermos nossa identidade é como se tivéssemos perdido o nosso nome. E lembrem-se: preservar a ancestralidade é manter a tradição.Sou dirigente da Casa de Toy Lego Xapanã em Manaus. E, espero que meu Vodum abençoe todos nos dando Adoji aos nossos Oris. AXÉ AXÉ AXÉ

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Jorge: Um Guerreiro Santificado

Um Mártir Cristão

Se tem veracidade ou não, a história nos conta que, por volta do século III d.C., por volta de 275 d.C., quando Diocleciano era imperador de Roma, havia nos domínios de seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge de Anicii, Filho de pais cristãos, converteu-se a Cristo ainda na infância, quando passou a temer a Deus e a crer em Jesus como seu único e suficiente salvador pessoal.

Infância e ingresso no serviço militar

Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia, Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Tendo ingressado na carreira militar, distingui-se por sua inteligência, coragem, capacidade organizativa, força física e porte nobre. Foi promovido a capitão do exército romano devido à sua dedicação e habilidade. Tantas qualidades chamaram a atenção do próprio imperador, que decidiu lhe conferir o título de Conde.
Com a idade de 23 anos, passou a residir na corte imperial, em Roma, exercendo altas funções. Nessa mesma época, o Imperador Diocleciano traçou planos para exterminar os cristãos.
No dia marcado para o Senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião, declarando-se espantado com aquela decisão e afirmou que os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses. Todos ficaram atônitos ao ouvirem essas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande coragem a sua fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador dos homens.
Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da verdade. O tal cônsul, não satisfeito quis saber: " O que é a verdade?" E Jorge lhe respondeu: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, nEle confiado, me pus no meio de vós para dar testemunho da verdade".
Como Jorge mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé, torturando-o de vários modos. Após cada tortura, era levado perante o Imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os Ídolos. Porém, jamais abriu mão de suas convicções e de seu amor ao Senhor Jesus. Todas as vezes em que foi interrogado, sempre declarou-se servo do Deus Vivo, mantendo firme posicionamento de somente a Ele temer e adorar.
Em seu coração, Jorge discernia  claramente o propósito de tudo que lhe ocorria. A fé deste servo de Deus era tamanha, que muitas pessoas passaram a crer em Jesus e confessá-lo como Senhor por intermédio da pregação do jovem soldado romano. Durante seu martírio, Jorge mostrou-se tão confiante em Cristo Jesus e na obra redentora da cruz, que a própria Imperatriz alcançou a graça da salvação eterna ao crer no Senhor. Seu testemunho de fidelidade e amor a Deus arrebatou uma geração de incrédulos e idólatras romanos. 
Enfim, por volta de 23 de abril de 303, depois de tentar, de todas as maneiras, colocar fim à vida de Jorge por meio de toda a sorte de torturas, percebendo que nada mais era possível fazer para calar a voz do mártir que falava em nome de seu senhor, o imperador não vê outra forma a não ser mandar degolar o jovem e fiel discípulo de Jesus.

Canonização

Em 494 d.C., a Igreja Católica canoniza Jorge, com cultos e rituais prestados em sua memória. Assim, confirmou-se a devoção a Jorge, até hoje largamente difundida, inclusive em grandes centros urbanos, como a cidade do Rio de Janeiro, onde desde 2002 faz-se feriado municipal na data comemorativa de sua morte.
Pelo século V, já haviam cinco igrejas em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, construíram quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, em Bizâncio, no Estreito de Bósforo na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica Romana.
Desde o século VI, haviam peregrinações ao túmulo de São Jorge em Lídia. Esse santuário foi destruído e reconstruído várias vezes durante a história.
Estevão, rei da Hungria, reconstruiu esse santuário no século XI. Foram dedicadas numerosas igrejas a São Jorge na Síria. A devoção a São Jorge chegou a Sicília na Itália no século VI. No século VII, o siciliano Papa Leão II construiu em Roma uma igreja para São Sebastião e São Jorge. No século VIII o Papa Zacarias transferiu para essa igreja a cabeça de São Jorge.

Chegada a Portugal

Em 1147, no contexto da reconquista cristão da Península Ibérica, após a conquista de Santarém, as forças de D. Afonso Henriques (1112 - 1185), com o auxílio de cruzados normandos,flamengos, alemãs e ingleses que se dirigiam à Terra Santa, investiu contra esta fortificação muçulmana, que capitulou após um duro cerco de três meses. Como preito de gratidão, o castelo, agora cristão, foi colocado sob a invocação do mártir São Jorge, a quem muitos cruzados dedicavam devoção. No dia da conquista, 25 de outubro, comemora-se hoje o "Dia do Exército", instituição que, no país, tem São Jorge como padroeiro.
Acredita-se que os Cruzados Ingleses, que ajudaram D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa, teriam sido os primeiros a trazer a devoção a São Jorge para Portugal. No entanto, somente no reinado de D. Afonso IV que o uso de "São Jorge!" como grito de batalha se tornou regra, substituindo o anterior, "Sant'lago!".

Cavaleiros de Jorge

Em 1340, o rei inglês Eduardo III institui a Ordem dos cavaleiros de Jorge.
As cruzadas medievais tornaram popular no Ocidente a devoção a São Jorge como padroeiro dos Cavaleiros da Cruz e das Ordens de Cavalaria, para libertar todo o país dominado e converter o povo ao cristianismo.
Embora muitos considerem que sua história não passe de um mito e outros até mesmo acreditem que o santo tenha sido cassado pela Igreja Católica, o martírio de São Jorge e o seu culto continuam sendo reconhecidos pelo catolicismo. A lenda do guerreiro que matou o dragão, havia sido rejeitada no século V por um con-cílio, mas persistiu e ganhou enorme popularidade no tempo das Cruzadas.

Primeira Homenagem

Em Valência, Espanha, é realizada a primeira homenagem a São Jorge. A presença documental da devoção a São Jorge em terras catalãs remonta ao século VIII. Os reis e a Generalidade da Catalunha impulsionaram a celebração da festa de São Jorge por todas as regiões catalãs. Em Valência, em 1343, já era uma festa popular. 
Em 1407, Mallorca celebrava-a publicamente. Em 1436, a Generalidade da Catalunha propôs, nas cores reunidas em Montsó, a celebração oficial e obrigatória de São Jorge. Em 1456, as cortes reunidas na Catedral de Barcelona, ditaram uma constituição que ordenava a festa, inclusa no código das Constituições da Catalunha. As remodelações do Palácio da Generalidade feitas durante o século XV são a prova mais clara da devoção impulsionada por esse órgão público, ao colocar um medalhão do santo na fachada gótica e ao construir no interior a capela de São Jorge.

Santo cassado?

No dia 09 de maio de 1969, a observância do Dia de São Jorge tornou-se opcional, com a reforma do calendário litúrgico realizada pelo Papa Paulo VI.
Essa reforma retirou do calendário litúrgico as comemorações dos santos dos quais não havia documentação histórica, mas apenas relatos tradicionais. Daí ter-se falado, naquele tempo, em "cassação de santos". Mas o fato da celebração de Dia de São Jorge tornar-se opcional não significa o não reconhecimento do santo.

Feriado

Em 05 de março de 2008, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, instituiu o dia 23 de abril como feriado no Estado. A Lei nº 5198 institui Dia de São Jorge como feriado estadual. Por toda a cidade, há missas, salvas de canhão, banda de música, barraquinhas e batucadas. Nos bairros de Campo Grande e Bangu, por exemplo, os fiéis saem em cavalgada pelas ruas. No centro da cidade, mais de 160 mil fiéis vão à Igreja da Irmandade de São Gonçalo Garcia e São Jorge, na praça da República. Seja para agradecer graças alcançadas ou pedir bençãos, socorro para as curas ou soluções de problemas, devotos de São Jorge dão muitas demonstrações de fé por toda a cidade neste dia de comemoração do santo.

Sincretismo

Em seus sonhos de liberdade, o negro africano, via em Ogum, o Orixá da Guerra, a força de que necessitava para conseguir sua liberdade. Um dia empunharia a lança e a espada de Ogum e vingaria  seus parentes e amigos mortos e voltaria à sua terra natal. Portanto, cultuar Ogum era vital, pois ele os ajudaria em suas batalhas dando forças e emprestando a coragem que tanto necessitavam.
A figura de São Jorge mostra um homem com armadura que fere com uma lança o dragão, símbolo do mal. As imagens de santos da época eram esculpidas em madeira, assim, o negro, habilmente escava a imagem do santo católico e introduzia o "Otá" - pedra de sua obrigação. Dessa forma. poderia voltar-se para a imagem do santo católico e reverenciar o seu Orixá.
Às vezes, o senhor das terras tinha um santo de devoção pessoal e obrigava o negro a cultuá-lo. Isso justifica o fato de, em Salvador, Ogum ser sincretizado com Santo Antônio e não com São Jorge.

A lenda do Dragão

Baladas medievais contam que Jorge era filho de Lorde Albert de Coventry. Sua mãe morreu ao dar a luz e o recém nascido foi roubado pela Dama do Bosque para que mais tarde fizesse proezas com suas armas. Ao crescer, primeiro lutou contra os sarracenos e, depois de viajar durante meses por terra e mar, foi para Sylén, uma cidade na Líbia, onde encontrou um pobre eremita que lhe contou que a cidade estava em sofrimento, pois lá existia um dragão que todos os dias exigia o sacrifício de uma bela donzela e que todas as meninas haviam sido mortas, só restando a filha do rei, Sabra, que seria sacrificada no dia seguinte ou dada em casamento ao campeão que matasse o dragão. Jorge foi até o dragão determinado a salvar a princesa. Ao chegar, viu um cortejo de mulheres que levavam a princesa até o dragão que, ao ver Jorge, sai da caverna rosnando. Mas Jorge não se amedronta, enterrando sua lança na garganta do monstro e matando-o.
A ligação de São Jorge com a lua é puramente brasileira, com forte influencia da cultura africana. A tradição diz que as manchas na lua representam o milagroso santo, seu cavalo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam a sua ajuda.

Salve São Jorge



Axé axé axé

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Deus e a Religião Africana

A visão do Ser Supremo na religião Afro Descendente


Os sistemas religiosos "pré - letrados" têm natureza basicamente diversa da experiência vivida pelas grandes religiões universais. Entretanto, em muitas religiões africanas encontram-se frequentemente elaboradas construções abstratas e intensa espiritualidade, como se expressa na ideia de um Deus incriado e criador.
Podemos citar o trecho de uma obra em que lemos: "a noção de justiça divina, por sua vez, pressupõe que existia uma espécie de contrato firmado entre a divindade e os homens. O Ser criador assegura a vida, a terra e tudo o que nela existe, exigindo em troca, submissão e respeito. Assim determinados males são entendidos como recursos com os quais a divindade castiga os homens que romperam, de alguma forma, sua parte no pacto. Prescrições ritualísticas religiosas configuram-se como a única maneira de alcançar o beneplácito divino". 
Três características das antigas religiões africanas surgem bem nítidas nessa citação, a saber:
  1. Deus é criador;
  2. Existe uma aliança entre Deus e a humanidade;
  3.  A religião leva a uma espiritualidade profunda.

Monoteísmo

Teólogos e pastores prestariam bom serviço às comunidades cristãs se as ajudassem a entender que não há politeísmo na cultura religiosa africana. Os negros vindos da África não eram politeístas.Acreditavam em um Ser supremo, criador de tudo. Que os povos de cultura nagô-yorubá o chamem pelo nome de Olorum (o Inacessível) como os hebreus o denominaram Elohim, que os bantos o chamem de Nzambi (Aquele que diz e faz) ou Kalunga (Aquele que reúne) ou Pamba ou Maúnda como os gregos o denominaram Theos, ou nós o chamamos Deus e os indígenas Tupã, Ele é sempre o Supremo, o inatingível, Senhor do Céu e da Terra.
O Papa Paulo VI afirmou: "A ideia de Deus como causa primeira e última de todas as coisas é o elemento comum importantíssimo na vida espiritual da tradição africana. Esse conceito, percebido mais do que analisado, vivido mais do que pensado, exprime-se de modo bastante variado de cultura a cultura. Na realidade, a presença de Deus penetra na vida africana como a presença de um Ser Superior, pessoal e misterioso".

Os Orixás


Olorum se comunica conosco e se faz presente em nós através dos Orixás que são suas forças vivas. Cada família é consagrada a um Orixá, cada pessoa é protegida por seu Orixá. A proteção é constante, mas durante o culto, o Orixá poderá manifestar-se em alguns de seus filhos ou de suas filhas. São momentos inesquecíveis, de profunda experiência espiritual. Os Orixás não são deuses, mas é por meio deles que Olorum entra em contato com homens e mulheres e nós entramos em comunhão com Ele. Os Orixás têm atribuições e poderes nos diversos setores da criação. Sua função não consiste em trazer favores aos humanos, mas em transmitir-lhes o dinamismo vital que possuem e que comunicam durante o tempo em que se fazem presentes nos terreiros e se manifestam nas pessoas que lhes são consagradas. 
"O Orixá é essencialmente orientado para o bem do homem: portanto, ele ama. Como não acreditar num Deus-Amor que cria e envia o Orixá?" Pergunta o Padre François de I'Espinay. "Cresce assim a convicção de que Deus acompanha todos os passos de seus filhos como mãe".

 Os Antepassados

Os Orixás nada têm haver com os santos da Igreja católica. Se Santo antônio é Ogum, ou São Jorge em outros lugares, se Yemanjá é Nossa Senhora da Conceição e Santa Bárbara é Yansã, trata-se de expedientes para confundir os brancos, evitando, assim, perseguições. O que mais se assemelha ao culto católico dos santos é o culto dos antepassados. Para nós, africanos, os antepassados morreram, mas não se ausentaram. Permanecem junto de suas famílias, invisíveis, protegendo-as e orientando-as. Com elas se comunicam especialmente através dos sonhos. A morte não é o fim; é a passagem para um novo modo de ser. A resposta de Cristo aos saduceus ilumina essa crença profunda na presença dos antepassados. Deus disse: " Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Ele não é um Deus de mortos, mas sim de vivos" (Mt 22, 32). Em todo terreiro, por pequeno que seja, há um espaço reservado aos antepassados. A eles se dirige uma saudação no início de cada culto.

Candomblé e suas formas de celebração

Conquanto inacessível para os seres humanos, Deus está muito presente na comunidade e na vida de cada um. A cultura não se preocupa com definições do Ser Supremo. Contenta-se com a certeza de sua presença e de sua ação constante em favor dos humanos. Também não o invoca ordinariamente. Sendo o Inacessível, a Ele se chega através de mediações. O Orixá a que cada um é consagrado, exerce essa função de mediador. Por sua vez, os antepassados são outro sinal da presença e benevolência de Deus. Mas é na celebração que essa presença de Deus torna-se patente na comunidade. Celebração é festa, é alegria, é lazer. Acontece de preferência à noite e se prolonga por horas a fio indo, não raro, até a madrugada. E todos saem felizes. Muitos vão diretamente ao trabalho. Sentem-se até fisicamente descansados graças à experiência espiritual que viveram.
A celebração é cuidadosamente preparada. Não no sentido de escolha de textos ou cânticos. Celebração na cultura religiosa africana, não se compõe de leituras, reflexões e cânticos. A preparação consiste em limpar e adornar o terreiro, preparar as oferendas e deixá-las em condições de serem apresentadas, oferecidas e consumidas. Isto exige bastante trabalho que ocupa homens e mulheres em grande número. juntar os animais para oferecer em sacrifícios e depois oferecê-los como pratos do banquete, tudo isso envolve praticamente toda comunidade. Mas isso também já é revelação de Deus presente. Na alegria dos que preparam a festa e na solidariedade no trabalho, Deus se revela o Deus-Amor.
O lugar da festa é o terreiro. Não temos templos suntuosos como o que Salomão construiu. Nem basílicas, catedrais  ou santuários. A festa religiosa se faz em contato com a natureza; basta um terreiro. Melhor se for terreiro verdadeiro de terra batida, sem cimento, sem mosaicos. Assim, ao entrar no terreiro, a pés descalços, os devotos experimentarão o importante contato com a terra. A terra é a mãe que fecunda. Tem axé, tem energia, fertilidade. É comum ao negro e ao índio o respeito para com a terra e os outros elementos da natureza. Esse contato com a natureza prossegue com aspersões de água perfumada com flores e plantas aromáticas, com defumações do ambiente e das pessoas. Faz lembrar a água benta e as incensações do altar católico, dos ministros sagrados aos fiéis.
São preparações necessárias para a festa. Porque a festa mesmo será o encontro com o Orixá através dos quais se realiza a experiencia do encontro com Deus. Todos os presentes são envolvidos, mesmo aqueles que são apenas visitantes e não fazem parte da comunidade e não praticam a religião dos Orixás. A preparação chega ao fim com a oferta que se faz a Exú. Ele é enviado como mensageiro para avisar aos demais Orixás que tudo está preparado para a chegada deles.
As filhas de santo formam um círculo e dão início à dança ritual da qual toda assembléia participa. O tempo se prolonga na dança e no canto. Inesperadamente algum Orixá se manifesta. Toma posse de algum de seus filhos e filhas que logo entra em transe. E a exaltação chega a seu ápice com a empolgação de todos para receber o Orixá. Depois de sua apresentação, caberá ao dirigente da casa determinar o encerramento da festa, com a certeza do dever cumprido. E assim se realiza nossa comunhão com os Orixás e a comunidade do terreiro com Deus e o mundo invisível.

Axé

   Inspirado no texto de Dom José Maria Pires

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Xapanã

Xapanã: O Senhor das Doenças e suas Curas


É o Orixá da transformação.
Padroeiro dos pobres, humildes e doentes, assim é conhecido o orixá Xapanã, uma das mais temidas e respeitadas Divindades do panteão africano.
Tem o poder de cura, mas também pode provocar doenças, principalmente como a varíola, e as enfermidades de pele de todos os gêneros infecciosos.
É o médico dos pobres, é um orixá ambivalente e a ele são atribuídas as doenças contagiosas.
A febre, doença de pele, cegueira, surdez, catapora e sarampo são considerados manifestação de Xapanã, que leva seres humanos a regeneração de algum mau costume. Dono do interior da terra, está ligado ao mistério, ao oculto.
É reverenciado no silêncio da morte.
Ao mesmo tempo em que o orixá Bará desfaz os fluídos grosseiros e pesados, Xapanã desintegra as pequenas cargas de energia negativa.
Recorre-se a Xapanã em praticamente todos os tipos de problemas do cotidiano.
Com suas polaridades e inversões, faz lembrar que Xapanã, com seu Bará, seu princípio dinâmico do existir não é apenas sofrimento e morte, mas também transformação e vida.
Bará e Xapanã encontram-se na pele.
Xapanã quer dizer rei e dono da terra. Sua veste é palha e esconde o segredo da vida e da morte.
Usa o aze, capacete de palha da Costa, ou o filá, capuz de palha da Costa e carrega na mão o xaxará, feixe de fibra de palmeira, enfeitado com búzios.
Sua vestimenta é utilizada principalmente em ritos ligados à morte e ao sobrenatural, sua presença indica que algo deve ficar oculto.
Compostos de duas partes, o filá e o azé, a primeira parte, a de cima que cobre a cabeça é uma espécie de capuz trançado de palha da costa, acrescido de palhas em toda sua volta, que passam da cintura, o azé, seu asó-ìko roupa de palha é uma saia de palha da costa que vai até os pés em alguns casos, em outros, acima dos joelhos, por baixo desta saia vai um xokotô, espécie de calça, também chamado cauçolão, em que oculta o mistério da morte e do renascimento.
Nesta vestimenta acompanham algumas cabaças penduradas, onde carrega seus remédios. Ao vestir-se com ìko e cauris, revela sua importância e ligação com a morte.
Sua festa anual é o Olubajé, aquele-que-come. São feitas oferendas e são servidas suas comidas votivas.
Xapanã está presente em nosso dia-a-dia, quando sentimos dores, agonia, aflição, ansiedade. Está presente quando sentimos coceira e comichões na pele. Rege também o suor, a transpiração e seus efeitos. Rege aqueles que tem problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes.
Está relacionado à terra quente e seca, como o calor do fogo e do sol, calor que lembra a febre das doenças infectocontagiosas.
Xapanã está no organismo, no funcionamento do organismo. Na dor que sentimos pelo mal funcionamento dos órgãos. Está presente nos hospitais, casa de saúde, ambulatórios, postos de saúde, clínicas, sempre próximo aos leitos. Como também em locais onde existam pesquisas, estudos. Rege os mutilados, aleijados, enfermos.
Ele proporciona a doença mas, principalmente, a cura, a saúde. É o Orixá da misericórdia.
Xapanã é à força da natureza que rege o incômodo de um modo geral. Rege o mal estar, o enjoo, o mal humor, a intranquilidade.
É o Orixá do abafamento e está presente nele, bem como na má digestão e na congestão estomacal.
Gera o ácido úrico e seus efeitos.
Xapanã está presente em todas as enfermidades e sua invocação, nessas horas, pode significar a cura, a recuperação da saúde.

MITOLOGIA


Xapanã era um guerreiro terrível que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do mundo.
Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos saíam d
os combates mutilados ou morriam de peste.
Assim, chegou Xapanã em território Mahi, no Dahomé. A terra dos Mahis abrangia as cidades de Savalú e Dassa Zumê.
Quando souberam da chegada iminente de Xapanã, os habitantes desta região, apavorados, consultaram um Babalawô.
E assim ele falou:
Ah! O Grande Guerreiro chegou de Empê! Aquele que se tornará o senhor do país! Aquele que tornará esta terra rica e próspera, chegou! Se o povo não o aceitar, ele o destruirá! É necessário que supliquem a Xapanã que os poupem.
Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste: inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, picadinho de carne de bode e muita, muita pipoca! Será necessário também que todos se prosternem diante dele, que o respeitem e o sirvam. Logo que o povo o reconheça como pai, Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!
Quando Xapanã chegou, conduziu seus ferozes guerreiros, mas os habitantes de Savalú e Dassa Zumê reverenciaram-no, encostando suas testas no chão, e saudaram-no:
Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!
Respeito e Submissão!
Xapanã aceitou os presentes e as homenagens, dizendo:
Está bem! Eu os pouparei! Durante minhas viagens, desde Empê, minha terra natal, sempre encontrei desconfiança e hostilidade. Construam para mim um palácio. É aqui que viverei a partir de agora!
Xapanã instalou-se assim entre os Mahis.
O país prosperou e enriqueceu e o grande guerreiro não voltou mais a Empê, no território Tapá, também chamado Nupê.

Sakpata 


É a denominação fon do Vodum do panteão da terra. É o grande Ayi-vodun dos Ewe-fon, por isso intitulado Ayinon o dono da terra.
Considerado filho mais velho de Mawu ele é, enfim, o Rei do Mundo, originariamente Vodun senhor da varíola e, por extensão, de inúmeras enfermidades contagiosas que deformam o corpo. Todo o povo fon o teme enormemente e o cultua fervorosamente e possui uma grande quantidade de representações, cada uma sendo um aspecto de doenças e infecções.
A tradição aponta a origem do culto de Sakpatá na localidade de Kpeyin Vedji, um enclave iorubá dentro do território mahi a noroeste de Abomei. Desta dupla procedência permanece a curiosidade de que Sakpatá é considerado uma divindade iorubá, nagô pelos fon e gun jêje pelos iorubás.

Kohossú: Significa "Rei da Lama" é o pai de todos os Sakpatás.


Nyohwe Ananú: Dona da água parada que mata de repente, é a mãe, e são ambos filhos de Nà Buùku.

Da Zodji: Envia a disenteria e os vômitos. Considerado o mais velho de todos, não tem braços ou pernas e é carregado numa padiola, mas tem o poder da invisibilidade e, apesar do defeito físico, comanda todos os Sakpatás.

Alogbê: Possui cinco braços e é ligado aos tohossú.

Adan Tanyi: É filho de Da Zodji, e traz a lepra.

Adohwan: Castiga perfurando os intestinos.

Aglossuntó: É responsável pelas feridas e chagas que nunca cicatrizam.

Avimadjé: É o que leva as almas dos que morreram punidos por Sakpatá.

Bossu-Zohon: É o grande feiticeiro.

Da Langan: Come a carne das pessoas ainda vivas.

Da Sinji: Traz as inchações e tromboses.

Suvinengué: Um abutre com cabeça humana e é filho de Da Langan.

Existem várias outras denominações: Agbologbodji, Tonekpó, Gbazu, Ahossú Ganhwa, Kpadadadaligbo, que é fêmea, etc.

Uma outra tradição conta que Sakpatá é uma divindade dupla, tanto macho como fêmea.
O macho sendo Da Zodji e a fêmea sua irmã Nyohwe Ananu, gêmeos nascidos do primeiro parto da entidade andrógina Mawu-Lissá.
Sakpatá é cultuado em seus templos sob um aspecto duplo. Possui o aspecto Jeholú Rei das Jóias, que seriam as pústulas trazidas pela varíola que é tratado internamente e não recebe sacrifícios de sangue diretamente, mas é lustrado com uma mistura de sangue e azeite de dendê e envolto por panos.
O aspecto Zun-holú Rei da Floresta fica do lado de fora, recebe os sacrifícios de sangue diretamente sobre ele e é coberto por rodilhas de ramos secos de palha-da-costa, e é um montículo que pode ser mais alto do que um homem.

Arquétipos


Frequentemente os filhos deste orixá levam consigo as marcas do mesmo. Rústicos, desajeitados. Falta-lhes o trato da diplomacia, bom gosto. Reprimidos, frustrados, torna-se amargos, arrilhados e vingativos. Ambiciosos, combativos, eles lutam com obstinação. São do tipo lento que amadurecem durante muito tempo os seus projetos. Perseverantes, gostam de situações estáveis, não aceitam facilmente mudanças. São indivíduos conservadores, faltando agilidade e capacidade de adaptação. São realistas, lógicos, resignados, humildes, optam por uma vida de renúncia. Não tem os homens muito sucesso com mulheres, não gostam de crianças, e as mulheres não são boas mães. No trabalho são exigentes, meticulosos e com grande senso de responsabilidade, compreensão, amizade, adaptação, generosidade. No sentido negativo são motivados a esquisitice, vaidade exagerada, maldade, morbidez, indolência. São pessoas que ocultam sua individualidade sob uma máscara de austeridade. Têm muita dificuldade em se relacionar, pois são muito fechados e de pouca conversa. Geralmente apaixonam-se por pessoas totalmente diferentes de si próprias, isto é, por figuras extrovertidas e sensuais. Gostam de ver o ser amado brilhar, embora o invejem. Normalmente são irônicos, secos e diretos. Não são pessoas de levar desaforos para casa e nem de falar pelas costas. Odeiam fofocas e vulgaridades do gênero. A solidão é muito peculiar a essas pessoas, devido à sua própria personalidade. Não se sentem satisfeitos quando a vida corre normalmente, precisam mostrar seu sofrimento, exagerando, muitas vezes, nesse tipo de comportamento.
No geral são pessoas firmes e decididas, que lutam para conseguir seus objetivos. Geralmente, não sentem medo da morte, pois, no fundo de seu ser, compreendem que ela é apenas uma renovação.
Os filhos desse orixá são muito independentes e têm a necessidade de crescer com suas próprias forças e recursos. Apresentam pouco brilho em seu rosto e um semblante sério, com raros momentos de descontração. Parece que eles carregam, sobre os ombros, todo o sofrimento do mundo.Adoram fazer caridade e aliviar o sofrimento das pessoas, mas não se abalam emocionalmente com o mesmo.

Qualidades ou títulos


Afenan : É velho, dança curvado, veste a estopa e carrega duas bolsas de onde tira as doenças. Veste-se de amarelo e preto. Todas as plantas trepadeiras pertencem-lhe. Tem caminhos com Oxumaré e Oyá, de quem é companheiro, dança cavando a terra com Intoto para depositar os corpos que lhe pertencem.

Afoman,Akavan,Kavungo: Tem ligação com Exú. Afomo significa contagiante, infeccioso.


Ahosuji,Segí: Ligação com Iemanjá, Oxumare.


Ajoji , Ajagun : Tem fundamentos com Ogun e Oxaguian.


Arawe , Arapaná : Tem fundamento com Oyá.


Arinwarun , wariwaru , Gama : Título de xapanã.


Avimaje , Ajiuziun : Tem fundamento com Nanã e Ossain.


Azoani : É jovem, veste preto e branco. Tem caminhos com Iroko, Oxumaré, Iemanjá e Oyá.


Azonsu , Ajansu , Ajunsu : Tem fundamentos com Oxalá, Oxumare e Ogum. É extrovertido. É ligado ao tempo, as estações do ano e ao culto da terra. É o verdadeiro dono do cuscuzeiro. Veste de vermelho, preto e branco, na perna esquerda leva uma pulseira de aço.

Barun: O feiticeiro.


Etetu , Tetu : É jovem e guerreiro. Come com Ogum e Oyá. Veste de branco, preto e vermelho.


Intoto : Suas contas são vermelho e preto. É um orixá cultuado em seu assentamento e não vira na cabeça de ninguém. Dá-se comida a terra. Este orixá é Abìkú, portanto não se raspa, pois representa o fundo da terra. Come com Ewá, Oyá e Ikú. Seus assentos são cultuados ao lado de Nanã e iemanjá.

Jagun Agbagba : tem fundamento com Oyá.


Jagu Jagun ou Ajagun : É jovem e guerreiro; leva na mão uma lança chamada okó. Tem caminhos com Ogunjá, Oxaguian, Ayrá, Exu e Oxalufan. Não come feijão preto e é o único que come Igbin, Caracol.

Jubeteió ou Arawe,Arapaná: ligação com oyá


Posun, Posuru : É o mesmo Azunsun do Jeje, louvado como Possun no ketu e na Angola, tanto é Iroko como Tempo. Come diretamente da terra. Sua dança mostra claramente sua ligação discreta com Exu e com a terra, dança com garras na mão. Tem caminhos com Intoto, Iroko e Oyá.

Savalu , Sapekó : Tem forte fundamento com Nanã.


Soponna , Sapata , Sakpatá : É o mais antigo, é proibido falar o seu nome. Em África quando se fala o seu nome, coloca-se mel na boca. Come com Exu e tem fundamento nas encruzilhadas. Tem caminhos com Oxóssi e é o deus da varíola e das doenças de pele. Usa contas brancas e pretas.

OPANIJÉ


Opanijé, no candomblé é um toque sagrado, entoado para o Orixá Xapanã. Geralmente tocado para a divisão da comida ritual chamada Olubajé, quando todos em silêncio recebem sua porção, e os crentes aproveitam este momento para pedir saúde e longevidade.
O orixa dança numa representação simbólica, mostrando sua ligação com os mortos Iku e o seu domínio sobre a terra.
A origem da palavra é a língua yorubá, onde significa: aceitar comer.
.

Olubajé


Olubajé é um ritual anual para Xapanã e só é feito em casas de Candomblé, sendo obrigatório em casas onde haja feito um filho de Xapanã há menos de sete anos ou o próprio Zelador ou Zeladora seja deste Orixá.
Olubajé é uma palavra de origem Iorubana e significa: Olú : Aquele Que.. Ba : Aceita... Je : Comer.
É a única cerimônia dentro do Candomblé que dispensa o padé de Exú.
Após o toque do adjá, forma-se uma fila indiana, trazendo as gamelas enfeitadas com as cores dos orixás e suas comidas, com exceção da comida do Orixá Xangô. Faz parte também a bebida sagrada das cerimônias chamada de Aluá, e uma gamela contendo ewe lara, a folha de mamona, a qual servirá de prato para as comidas, não havendo a disponibilidade dessa folha pode ser tiras de bananeira.
Todo material é colocado sobre a esteira, formando assim a mesa do banquete.

Curiosidades



FRASE DE IMPACTO :  Atótóo - Silêncio.


BALANÇA :  Composta de 18 ou 09 pessoas.


COME : Bode, carneiro  , galos, angolas, pombos, pipocas.


COR : Preto, vermelho,branco,algumas nações o rosa.


DIA DA SEMANA :   Segunda feira, dependendo da nação.


DOENÇAS : Varíola , doenças de pele, catapora, sarampo, caxumba,  tuberculose, enfisema pulmonar.


ELEMENTO : Terra.


EMBLEMA  : Xaxará, cetro.


FERRAMENTA: Vassoura, xaxará, favas, moedas e búzios.


FRUTAS : Abacaxi, laranja ,maracujá,uva preta.


METAL : Zinco.


MORADA : Fenda de rochas.


NATUREZA  : Sol, terra.


NÚMEROS : 7, 8 e 14.


QUIZILAS :  Carneiro, caranguejo, peixe de rio de couro.


SAUDAÇÃO : Abáo ou atoto.


SÍMBOLO  : Vassoura de palha.


SINCRETISMO : São Lázaro, São Roque e Nosso Senhor do Bom Fim.

Atoto ajuberô Vodun Lego Xapanã

Axé axé axé

PS: Fotos do Dia 20/01/2018 meu santo Xapanã em festa em mais este ano de axé e consagração.

O Jongo

O Jongo: Dança ritual de Origem Congo-Angola


O Jongo é uma forma de expressão afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e magia. É praticado nos quintais das periferias urbanas e de algumas comunidades rurais do sudeste brasileiro. Acontece nas festas dos santos católicos e divindades afro-brasileiras, nas festas juninas, no Divino e no 13 de maio da Abolição da Escravatura.
Os antigos dizem que o Jongo é a "dança das almas". Em volta da fogueira, sempre à noite, os velhos jongueiros eram capazes de realizar encantamentos com os passos misteriosos e os cantos enigmáticos, em língua cifrada, compreendidos apenas pelos versados na mandinga. Vindo provavelmente da região de Benguela, onde o povo Ovimbundo dançava o "Onjongo", o Jongo espalhou-se por Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, áreas de marcante  presença de escravos bantos. Com a decadência da lavoura cafeeira do Vale do Paraíba e a abolição da escravatura, um grande contingente de negros dirigiu-se para as zonas urbanas da cidade do Rio de Janeiro. Na bagagem, trouxeram a tradição das danças dos ancestrais.
A dança ritual é uma forma de louvação aos antepassados, consolidação de tradições e afirmação de identidades. Tem suas raízes nos saberes, ritos e crenças dos povos africanos, principalmente os de língua bantu. São sugestivos dessas origens o profundo respeito aos ancestrais, a valorização dos enigmas cantados e o elemento coreográfico da umbigada.
No Brasil, o Jongo consolidou-se entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, no sudeste brasileiro, principalmente no Vale do Paraíba. Nos tempos da escravidão, a poesia metafórica do Jongo permitiu que os praticantes da dança, se comunicassem por meio de pontos que os capatazes e senhores não conseguiam compreender. Sempre esteve, assim, em uma dimensão marginal, onde os negros falam de si e de sua comunidade através da crônica e da linguagem cifrada.
Tambu, batuque, tambor, caxambu...O Jongo tem diversos nomes; é cantado e tocado de diversas formas, dependendo da comunidade que o pratica. Se existem diferenças de lugar para lugar, existem também semelhanças, características comuns presentes em muitas manifestações do Jongo.

Os Tambores

Os tambores são feitos a partir de troncos de madeira e couro de animal. São elementos centrais no Jongo, sempre reverenciados pelos jongueiros, pois fazem a ligação com as Entidades do mundo espiritual e expressam a conexão do Jongo com outras manifestações afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé. As Entidades são muito respeitadas na Roda de Jongo e sem elas o Jongo não sai.
Alguns tambores chegam a ter mais de cem anos de batuque e são passados de geração em geração. São tão importantes que, em geral, o guardião é o líder da comunidade Jongueira.
Os instrumentos musicais que acompanham os Jongueiros podem variar de um grupo para outro. Entretanto, a formação musical mais frequente inclui dois ou três tambores chamados de tambu e candogueira. Algumas comunidades usam também um tambor de fricção - espécie de cuíca de grandes dimensões conhecida como puíta ou angoma puíta.

A Dança

No Jongo, iniciado o toque dos tambores, forma-se uma roda de dançarinos que cantam em coro, respondendo ao solo de um deles. Os tambores e os batuqueiros estão sempre na roda ou perto dela. Sozinhos ou em pares, os praticantes vão ao centro da roda e dançam até serem substituídos por outros jongueiros. Muitas vezes, nota-se neste momento da substituição, o elemento coreográfico da umbigada.
Dança-se conforme se sabe. Uns dançam rodando, outros pulando ou arrastando os pés. Uns dançam devagar, outros bem rápido. Às vezes os passos são como os das coregrafias observadas nas rodas de santos da Umbanda. São várias as maneiras de se dançar o Jongo.

Os Pontos

Um dos elementos mais marcantes do Jongo é o ponto, a forma poética e musical expressa nos versos cantados pelos jongueiros. No Jongo, a palavra cantada assume características singulares que tornam essa expressão única.
O Ponto de Jongo tem alguma relação com o provérbio e, também, com a crônica através da qual se comenta a vida cotidiana, o passado e o presente. Configura um conhecimento restrito, secreto, guardado pelos jongueiros mais velhos - que somente ensinam aos jovens que já possuem iniciação. Existem uma variedade de pontos que são adequados a determinadas circunstancias.
Na Roda de Jongo os pontos se sucedem de forma encadeada. Para abrir a roda, é necessário o ponto de homenagem aos jongueiros mais velhos. Existem os pontos para pedir licença aos ancestrais vivos e mortos, existem pontos para abrir e fechar a roda, para entrar e sair dela. Muitos pontos são crônicas do cotidiano, narradas com humor e irreverência.
Os pontos de demanda ou gurumenta são formas de desafio lançado entre jongueiros, com adivinhas ou enigmas que testam as habilidades de cada um em decifrar seus significados. O verso tirado por um jongueiro é respondido pelo coro até que outro jongueiro o decifre e continue a conversa, botando outro ponto na roda.
O ponto não é propriamente canção nem forma poética. É forma sintética como muitas das formas artísticas africanas. Vem da África a ideia de que nos pontos a palavra proferida com intenção marcada pelos tambores acorda as forças do mundo espiritual, fazendo com que as coisas mágicas aconteçam.

O Registro e a Salvaguarda

Ao longo do século XX, as comunidades jongueiras estiveram envolvidas em complexos e dinâmicos processos sócio-culturais que condicionaram diferenças e especificidades.
Em muitas das comunidades com descendentes de escravos no sudeste brasileiro, o Jongo desapareceu, tanto pela dispersão de seus praticantes em consequência da migração e processos de urbanização, quanto pelo obscurecimento dessas práticas por outras expressões de maior apelo junto ao crescente mercado de bens simbólicos. Ou também devido a vergonha motivada pelo ´preconceito, expresso pelos segmentos da sociedade abrangente, relativo às práticas culturais afro-brasileiras.
Em outras comunidades, no entanto, o Jongo tem sido um fator de integração, construção de identidades e reafirmação de valores comuns; estratégias onde a memória e a criatividade são fundamentais.
As crianças, por exemplo, que durante muito tempo não podiam frequentar as rodas de Jongo, hoje são estimuladas a aprender o canto e a dança de seus ancestrais. E em muitas comunidades, hoje em dia, não é mais necessário ser filho de jongueiro para ser considerado jongueiro. A aproximação de pesquisadores e estudiosos, bem como, mais recentemente, de jovens das camadas médias urbanas, fez com que a participação em uma roda de Jongo não seja mais limitada aos membros da comunidades jongueiras. Além disso, algumas comunidades passaram a fazer apresentações artísticas, nas quais as Rodas de Jongo acontecem sob a forma de espetáculo.
Nesse sentido, o registro do Jongo como patrimônio cultural do Brasil é o reconhecimento por parte do Estado da importância desta forma de expressão para a conformação da multifacetada identidade cultural brasileira. Assim, aos jongueiros é colocado o desafio de dialogar com os processos da cultura de massa e do universo do entretenimento e, ao mesmo tempo, manter os fundamentos dessa prática.
Essas questões tem sido tratadas de forma crítica pelos jongueiros através de iniciativas como o Encontro de jongueiros - evento anual que reúne comunidades e praticantes do Jongo de São Paulo e Rio de Janeiro (os recursos são parcos para que as comunidades capixabas possam participar). E também, através da Rede de Memória do Jongo, nascida a partir do Encontro de Jongueiros, com o objetivo de, segundo seus idealizadores, estreitar os laços de sociabilidade entre as comunidades jongueiras e fortalecer os canais de articulação com a sociedade em geral.

Mais que uma dança, um Ritual

Segundo o livro "Jongos do Brasil" , o Jongo foi trazido da região africana Congo-Angola para o Brasil Colônia. Os negros escravos podiam dançar o Jongo nos dias dos santos católicos - era o único momento permitido para a confraternização. 
É uma dança dos ancestrais, dos Pretos - Velhos escravos, do cativeiro. A dança é profana, para divertimento, mas guarda um atitude religiosa e misteriosa.
Os antigos eram muito rígidos e exigiam respeito para ensinar os segredos do Jongo e os fundamentos dos seus pontos. Por isso, no início, só os mais velhos entravam na Roda de Jongo, os jovens ficavam apenas observando. Dança-se na maioria das vezes descalços, com roupas do dia a dia. O Jongo é acompanhado por dois tambores (grave e agudo). A dança do Jongo acontece ao ar livre. Os negros montam uma fogueira e iluminam o terreiro com tochas. Armam uma barraca de bambu, onde os casais dançam ao ritmo do calango. À meia noite, a negra mais idosa interrompe o baile, caminha para o terreiro de terra batida, se benze nos tambores sagrados e pede licença aos Pretos - Velhos (antigos jongueiros que já morreram). O primeiro casal entra na roda e começa a dançar. Dança-se o Jongo no dia 13 de maio, consagrado aos Pretos - Velhos, nos dias santos católicos de devoção da comunidade, nas festas juninas, nos casamentos e, recentemente, em apresentações públicas.

Axé a Todos.



* Pesquisa resultado para o Livro das Formas de Expressão do Patrimônio Imaterial do IPHAN.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Amalá: Principal oferenda à Xangô

Xangô, que nos rituais Nagô, é o Orixá da justiça, do equilíbrio, aquele que decide o certo e o errado, sendo representado principalmente pelo trovão, pelo pilão e o Oxê (espécie de machado que corta dos dois lados, como a justiça deve ser: neutra e imparcial).
Possui como principal comida ritual o Amalá, por isso chamada de comida de axé, que deve ser colocada em uma gamela, quando possível, preparado por um filho de Xangô.
Servir o Amalá é sempre um momento de muita emoção e deve ser de união também, pois, é quando temos a oportunidade de poder compartilhar do axé deste Orixá com todos os presentes, se encher de alegria e forças a cada novo dia, tendo a certeza que Xangô está presente em todos os nossos momentos, nos acompanhando em cada decisão e em cada novo passo de nossa vida diária.
Nos rituais Nagô, a culinária é de extrema importância, pois o Orixá está do lado de quem prepara, observando o carinho dispensado, a atenção dada e a dedicação do preparo inicial até a entrega do axé. Não basta apenas fazer, é preciso fazer certo, sem esperar receber nada em troca por isso. É o que chamamos de amor pelo Orixá, pela religião.
Mais do que servir uma linda oferenda, o seu "coração", deve estar puro, lembrando que o Orixá sabe quando estamos fazendo de boa vontade. A hipocrisia e o desrespeito com os Orixás é o maior problemas das casas de santo. A doença e os problemas futuros que estes recebem, é a certeza que o Orixá tudo enxerga e tudo sentencia, nos mostra que Xangô é imparcial, retirando destas casas todos seus filhos que foram vítimas das artimanhas de alguns.
"Dize-me o que comes e te direi qual deus adoras, sob qual latitude vives, de qual cultura nascestes e em qual grupo social te incluis. A leitura da cozinha é uma fabulosa viagem na consciência que as sociedades têm delas mesmas, na visão que elas têm de sua identidade." (Maciel, 2005, p.50)
O Amalá identifica Xangô na comunidade onde ele está inserido, fortifica seu axé, fortalece seus membros e cumpre um compromisso social pois, uma casa de santo é aberta à comunidade.
Poder participar é ter a possibilidade de alimentar a sua fé a cada dia. Assim como é fornecido alimento ao corpo, a fé é o alimento oferecido ao Sagrado. Compartilhar o alimento com o Sagrado é ter a possibilidade e ser servido do mesmo alimento que é ofertado ao Orixá, neste caso Xangô, é ter a certeza de vitórias sobre as injustiças da vida e do caminho.
Quando é degustado pela comunidade e filhos de santo, estamos não somente ingerindo um alimento, mas, também, resgatando uma ancestralidade. Estamos desenvolvendo nossa humildade quando comemos o Amalá com as mãos em respeito a Xangô, aos nossos Orixás e à nossa religião africana.
É crucial que para participar deste ritual, os participantes estejam puros, pois, sendo Xangô o Orixá da balança, do equilíbrio, ele busca a justiça onde ela estiver, inclusive quando seus filhos erram, pois a justiça é feita onde é necessária.
É imprescindível que o preparo do Amalá seja realizado com dedicação e pureza no coração. É necessário estar em sintonia com seu Orixá e, esta sintonia somente é alcançada, com o carinho de quem está preparando o Amalá.
O ritual do Amalá é a oportunidade que todos temos de compartilhar momentos de muita fé e de agradecimento à Xangô assim como também, de realizar nossos pedidos e fortalecer o axé.
O axé é fortalecido com ações corretas a cada dia. Axé é uma força e como toda força, pode diminuir ou aumentar e essas variações estão determinadas pelas atividades e condutas rituais (Santos, 2008).
Daí a importância de uma conduta correta e adequada à religião africana. Não basta ser de religião. É preciso viver a religião. E a religião é vivida através de ações diárias com os Orixás. Quando se prejudica um filho de axé, está se prejudicando seu Orixá. Quando não agimos bem com nossos irmãos, quer no ambiente de terreiro, quer na sociedade, não estamos honrando a fé que professamos, nem mesmo o sagrado do qual somos representantes.
O Amalá para Xangô, é o momento onde todos se reúnem para desenvolver ainda mais sua fé, experimentar e comungar do axé e resgatar a ancestralidade de cada um.
Orixá é alegria, é paz e tranquilidade. Especialmente Xangô, Orixá da justiça e do equilíbrio. Capaz de tomar decisões certas onde não teríamos condições.
Neste sentido, o Amalá para Xangô é o momento onde o Orixá recebe todos os seus filhos e os mostra o caminho certo, pois, como pai, ele educa, corrige e faz com que seus filhos andem e se desenvolvam a cada dia mais em toda sua plenitude.

Axé axé axé

Abikù - O ser destinado

Falar um pouco sobre o ritual de Abikù é um pouco complicado pois, na visão antiga do candomblé, se diz que o Abikù é aquele que nasceu para morrer. Levando em consideração essa afirmativa, se tinha muito receio de iniciar uma pessoa Abikù, pois, alguns diziam que já era um ser iniciado só restando fazer as obrigações para dar continuidade, outros que eram necessárias as obrigações de iniciação, o que gerava muita discussão e incertezas nesse caso específico. No Candomblé antigo, existiam várias formas de se tratar desta questão mesmo que de maneira meio controversa já que, alguns dizem que são seres que já nascem prontos, não precisando de feitura, outros que a criança morreria ao nascer,  ou que a mãe morreria depois de olhar a criança e, também, se fazia o jogo com  a mãe ainda em estado de gravidez para se realizar os rituais  necessários para que tudo ocorresse de forma harmoniosa tanto para a mãe como para o recém nascido. 
Até os dias de hoje, na prática de Salvador, se a mãe estiver grávida, e precisar recolher, já se realiza o ritual de iniciação para a mãe e a criança ainda dentro da barriga.
Hoje com a influência do Ifá, as coisas tomaram outro rumo em questão de se entender certos rituais. A visão do Ifá é diferente. Possui o mesmo sentido, porém, realizam cultos diferentes direcionados exclusivamente às crianças Abikùs. Para eles, os Abikùs devem ser iniciados no Ifá e não no Candomblé. 
Somos Afros, brasileiros, descendentes ou não, sobrevivemos até os dias de hoje com o nosso candomblé, as nossas raízes ou com outros rituais  que nos difere mais que possui o mesmo objetivo: O amor ao Sagrado. E, na minha visão, é muito complicado trazermos nos dias atuais o culto de Ifá para dentro dos terreiros. Mesmo por que, a África sempre nos ensinou que, os Babalawôs devem ter pelo menos 40 anos de iniciados, ou dentro do Ifá para entender tudo aquilo que Ifá teve que passar para engrandecer seu conhecimento. Hoje, vemos os Omoifás iniciados já, mesmo antes de um ano se dando o título de Babalawô. Babalawô é uma palavra muito forte. Requer anos para se entender o que se representa e o peso que essa palavra carrega com todos os Odùs dentro do Ifá.
Eu sempre digo uma coisa: "Amelhor casa de santo é a nossa e o melhor pai de santo é o nosso."
Então, descrevi aqui um artigo que mais serve para pesquisa do que para aprofundamentos. Até por que, temos várias e várias questões que vão de encontro com o que as outras casas que pertencem a outros cultos, acreditam e seguem.