Um Mártir Cristão
Se tem veracidade ou não, a história nos conta que, por volta do século III d.C., por volta de 275 d.C., quando Diocleciano era imperador de Roma, havia nos domínios de seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge de Anicii, Filho de pais cristãos, converteu-se a Cristo ainda na infância, quando passou a temer a Deus e a crer em Jesus como seu único e suficiente salvador pessoal.
Infância e ingresso no serviço militar
Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia, Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Tendo ingressado na carreira militar, distingui-se por sua inteligência, coragem, capacidade organizativa, força física e porte nobre. Foi promovido a capitão do exército romano devido à sua dedicação e habilidade. Tantas qualidades chamaram a atenção do próprio imperador, que decidiu lhe conferir o título de Conde.
Com a idade de 23 anos, passou a residir na corte imperial, em Roma, exercendo altas funções. Nessa mesma época, o Imperador Diocleciano traçou planos para exterminar os cristãos.
No dia marcado para o Senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião, declarando-se espantado com aquela decisão e afirmou que os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses. Todos ficaram atônitos ao ouvirem essas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande coragem a sua fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador dos homens.
Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da verdade. O tal cônsul, não satisfeito quis saber: " O que é a verdade?" E Jorge lhe respondeu: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, nEle confiado, me pus no meio de vós para dar testemunho da verdade".
Como Jorge mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé, torturando-o de vários modos. Após cada tortura, era levado perante o Imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os Ídolos. Porém, jamais abriu mão de suas convicções e de seu amor ao Senhor Jesus. Todas as vezes em que foi interrogado, sempre declarou-se servo do Deus Vivo, mantendo firme posicionamento de somente a Ele temer e adorar.
Em seu coração, Jorge discernia claramente o propósito de tudo que lhe ocorria. A fé deste servo de Deus era tamanha, que muitas pessoas passaram a crer em Jesus e confessá-lo como Senhor por intermédio da pregação do jovem soldado romano. Durante seu martírio, Jorge mostrou-se tão confiante em Cristo Jesus e na obra redentora da cruz, que a própria Imperatriz alcançou a graça da salvação eterna ao crer no Senhor. Seu testemunho de fidelidade e amor a Deus arrebatou uma geração de incrédulos e idólatras romanos.
Enfim, por volta de 23 de abril de 303, depois de tentar, de todas as maneiras, colocar fim à vida de Jorge por meio de toda a sorte de torturas, percebendo que nada mais era possível fazer para calar a voz do mártir que falava em nome de seu senhor, o imperador não vê outra forma a não ser mandar degolar o jovem e fiel discípulo de Jesus.
Canonização
Em 494 d.C., a Igreja Católica canoniza Jorge, com cultos e rituais prestados em sua memória. Assim, confirmou-se a devoção a Jorge, até hoje largamente difundida, inclusive em grandes centros urbanos, como a cidade do Rio de Janeiro, onde desde 2002 faz-se feriado municipal na data comemorativa de sua morte.
Pelo século V, já haviam cinco igrejas em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, construíram quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, em Bizâncio, no Estreito de Bósforo na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica Romana.
Desde o século VI, haviam peregrinações ao túmulo de São Jorge em Lídia. Esse santuário foi destruído e reconstruído várias vezes durante a história.
Estevão, rei da Hungria, reconstruiu esse santuário no século XI. Foram dedicadas numerosas igrejas a São Jorge na Síria. A devoção a São Jorge chegou a Sicília na Itália no século VI. No século VII, o siciliano Papa Leão II construiu em Roma uma igreja para São Sebastião e São Jorge. No século VIII o Papa Zacarias transferiu para essa igreja a cabeça de São Jorge.
Chegada a Portugal
Em 1147, no contexto da reconquista cristão da Península Ibérica, após a conquista de Santarém, as forças de D. Afonso Henriques (1112 - 1185), com o auxílio de cruzados normandos,flamengos, alemãs e ingleses que se dirigiam à Terra Santa, investiu contra esta fortificação muçulmana, que capitulou após um duro cerco de três meses. Como preito de gratidão, o castelo, agora cristão, foi colocado sob a invocação do mártir São Jorge, a quem muitos cruzados dedicavam devoção. No dia da conquista, 25 de outubro, comemora-se hoje o "Dia do Exército", instituição que, no país, tem São Jorge como padroeiro.
Acredita-se que os Cruzados Ingleses, que ajudaram D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa, teriam sido os primeiros a trazer a devoção a São Jorge para Portugal. No entanto, somente no reinado de D. Afonso IV que o uso de "São Jorge!" como grito de batalha se tornou regra, substituindo o anterior, "Sant'lago!".
Cavaleiros de Jorge
As cruzadas medievais tornaram popular no Ocidente a devoção a São Jorge como padroeiro dos Cavaleiros da Cruz e das Ordens de Cavalaria, para libertar todo o país dominado e converter o povo ao cristianismo.
Embora muitos considerem que sua história não passe de um mito e outros até mesmo acreditem que o santo tenha sido cassado pela Igreja Católica, o martírio de São Jorge e o seu culto continuam sendo reconhecidos pelo catolicismo. A lenda do guerreiro que matou o dragão, havia sido rejeitada no século V por um con-cílio, mas persistiu e ganhou enorme popularidade no tempo das Cruzadas.
Primeira Homenagem
Em Valência, Espanha, é realizada a primeira homenagem a São Jorge. A presença documental da devoção a São Jorge em terras catalãs remonta ao século VIII. Os reis e a Generalidade da Catalunha impulsionaram a celebração da festa de São Jorge por todas as regiões catalãs. Em Valência, em 1343, já era uma festa popular.
Em 1407, Mallorca celebrava-a publicamente. Em 1436, a Generalidade da Catalunha propôs, nas cores reunidas em Montsó, a celebração oficial e obrigatória de São Jorge. Em 1456, as cortes reunidas na Catedral de Barcelona, ditaram uma constituição que ordenava a festa, inclusa no código das Constituições da Catalunha. As remodelações do Palácio da Generalidade feitas durante o século XV são a prova mais clara da devoção impulsionada por esse órgão público, ao colocar um medalhão do santo na fachada gótica e ao construir no interior a capela de São Jorge.
Santo cassado?
No dia 09 de maio de 1969, a observância do Dia de São Jorge tornou-se opcional, com a reforma do calendário litúrgico realizada pelo Papa Paulo VI.
Essa reforma retirou do calendário litúrgico as comemorações dos santos dos quais não havia documentação histórica, mas apenas relatos tradicionais. Daí ter-se falado, naquele tempo, em "cassação de santos". Mas o fato da celebração de Dia de São Jorge tornar-se opcional não significa o não reconhecimento do santo.
Feriado
Em 05 de março de 2008, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, instituiu o dia 23 de abril como feriado no Estado. A Lei nº 5198 institui Dia de São Jorge como feriado estadual. Por toda a cidade, há missas, salvas de canhão, banda de música, barraquinhas e batucadas. Nos bairros de Campo Grande e Bangu, por exemplo, os fiéis saem em cavalgada pelas ruas. No centro da cidade, mais de 160 mil fiéis vão à Igreja da Irmandade de São Gonçalo Garcia e São Jorge, na praça da República. Seja para agradecer graças alcançadas ou pedir bençãos, socorro para as curas ou soluções de problemas, devotos de São Jorge dão muitas demonstrações de fé por toda a cidade neste dia de comemoração do santo.
Sincretismo
Em seus sonhos de liberdade, o negro africano, via em Ogum, o Orixá da Guerra, a força de que necessitava para conseguir sua liberdade. Um dia empunharia a lança e a espada de Ogum e vingaria seus parentes e amigos mortos e voltaria à sua terra natal. Portanto, cultuar Ogum era vital, pois ele os ajudaria em suas batalhas dando forças e emprestando a coragem que tanto necessitavam.
A figura de São Jorge mostra um homem com armadura que fere com uma lança o dragão, símbolo do mal. As imagens de santos da época eram esculpidas em madeira, assim, o negro, habilmente escava a imagem do santo católico e introduzia o "Otá" - pedra de sua obrigação. Dessa forma. poderia voltar-se para a imagem do santo católico e reverenciar o seu Orixá.
Às vezes, o senhor das terras tinha um santo de devoção pessoal e obrigava o negro a cultuá-lo. Isso justifica o fato de, em Salvador, Ogum ser sincretizado com Santo Antônio e não com São Jorge.
A lenda do Dragão
Baladas medievais contam que Jorge era filho de Lorde Albert de Coventry. Sua mãe morreu ao dar a luz e o recém nascido foi roubado pela Dama do Bosque para que mais tarde fizesse proezas com suas armas. Ao crescer, primeiro lutou contra os sarracenos e, depois de viajar durante meses por terra e mar, foi para Sylén, uma cidade na Líbia, onde encontrou um pobre eremita que lhe contou que a cidade estava em sofrimento, pois lá existia um dragão que todos os dias exigia o sacrifício de uma bela donzela e que todas as meninas haviam sido mortas, só restando a filha do rei, Sabra, que seria sacrificada no dia seguinte ou dada em casamento ao campeão que matasse o dragão. Jorge foi até o dragão determinado a salvar a princesa. Ao chegar, viu um cortejo de mulheres que levavam a princesa até o dragão que, ao ver Jorge, sai da caverna rosnando. Mas Jorge não se amedronta, enterrando sua lança na garganta do monstro e matando-o.
A ligação de São Jorge com a lua é puramente brasileira, com forte influencia da cultura africana. A tradição diz que as manchas na lua representam o milagroso santo, seu cavalo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam a sua ajuda.
Salve São Jorge |
Axé axé axé