A Nação Jeje
A Nação Jeje-Mahi, do estado da Bahia, e a Jeje-Mina, do Maranhão, derivavam suas tradições e língua ritual dos ewês-fons ou Jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas centrais são os Voduns. As tradições rituais Jejes foram muito importantes na formação dos candomblés no Brasil.
A palavra JEJE
Essa palavra vem do yorubá "adjeje", que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma Nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região do Dahomé, e pelos povos mahis. Jeje era o nome dado de forma pejorativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahis eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu na verdade vem de "Savê", que era o lugar onde se cultuava Nanã, uma das origens das quais seria Barba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê ( tendo, neste caso, a ver com os povos fons). O Abomey ficava no oeste, enquanto Ashanti era a tribo do norte. Todas essas tribo eram de povos Jeje.
A palavra DAHÓME
Essa palavra tem dois significados: Um está relacionado com um certo rei Ramilé, que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí, ficou " Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre, cujas as cabeças formávamos pés que iam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados:
Dan = "Serpente Sagrada"
Homé = "A Terra da Serpente Sagrada"
Acredita-se ainda que o culto a Dan é Oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, em que os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobras.
Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, podemos dizer que esse culto veio descendo do Egito até Dahomé.
Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Ashantis, Gans, Agonis, Popós, Crus etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge, evidentemente às leis da linguística - muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Mina-Gans ou Agonis e Popós que falavam a língua das Tobossis.
Jejes no Brasil
Os primeiros negros Jeje chegados no Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e, de lá, para Cachoeira de São Félix. Também ali há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís/Ma, Salvador e Cachoeira de São Félix na Bahia, o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares onde se encontram evidências dessa cultura.
Origem
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses Voduns só cresceu no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os Orixás Nagôs e desapareceram totalmente. O culto da serpente, Dáng-bi, é um exemplo, pois, nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas.
Classificação
Quanto à classificação dos Voduns Jeje:
- Jeje Mahi tem-se a classificação do Povo da Terra, ou Voduns Caviunos, que seriam os Voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos também o Vodun chamado Ayzan, que vem da nata da terra e é um Vodun que nasce em cima da terra. Ainda sobre os Voduns da terra, encontramos Loko que, apesar de estar ligado também aos astros e à família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque Loko é arvore sagrada, é a gameleira branca, muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokosses.
- A família Heviosso é encabeçada por Badé, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawú-Lissá seria o Orixá Oxalá dos Iorubas. Sogbô também possui suas particularidades com Orixá Iorubá Xangô e ainda com o filho mais velho do Deus do Trovão que seria Averekete, filho de Ague e irmão de Anaitêr.. Corresponde à Yansã no Candomblé.
- Anaitêr seria uma outra família, vinda de Aziri, pois são as Aziris ou Tobossis que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, e encontramos assim "Aziritobosse".
Jejes no Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o culto aos Voduns foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, com o Terreiro de Kpodabá, no bairro da saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide de São Martinho do Espírito Santo, também conhecida como Ontinha de Oyá (Oyá Devodê), mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da Rocha, e esse axé foi herdado por Glorinha Toqueno, com terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.
O Kpodabá é a casa matriz, mais deixou ramificações como o Kwesinfá. fundado em Agostinho Porto, por Natalina de Aziri ( Ezintoede), tendo como herdeira Helena de Bessen, que transferiu a roça para Parque Paulista, em Duque de Caxias, hoje filha de santo de Glorinha Tokuenu.
Depois veio Antônio Pinto de Oliveira, Tata Fomoutinho, que fundou o Kwe Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, mudando-se depois para Madureira, na Estrada do Portela, depois para São João de Meriti, onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.
Tata Fomoutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre estes, Jorge de Yemanjá, que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem, que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha, que fundou a Colina de Oxóssi e Pai Amaro de Xangô.
A relação dos Mina com os Jejes
A religião dos Jejes recebeu o nome genérico de Tambor de Mina pela presença constante dos tambores nos rituais e pelos escravos "Minas", como eram chamados os negros sudaneses. No culto do Tambor de Mina, se manifestam os Voduns e Entidades chamados de "Encantados". Espíritos que vem em Terra para dançar nas cerimônias públicas denominadas Tambor. É um culto que expressa forte sincretismo com o Catolicismo, e suas festas tem datas bem próximas a dos santos católicos.
Primeiras Casas Jejes
No Maranhão, os dois mais antigos terreiros foram fundados por africanas no século XIX e sobrevivem até hoje: Casa Grande das Minas ( Kuerebentan Zomadonu e a Casa de Nagô (Nagon Abioton).
- A Casa das Minas, se cultua exclusivamente os Voduns, que são as divindades da Nação Jeje, mas também dão passagem a Voduns Nagôs e Orixás, mas não cultuam divindades caboclas ou encantados.
- A Casa Nagô é de origem Iorubá e cultua Voduns, Orixás, espíritos de Reis, Nobres, Turcos, Índios, etc. Baseados nessa modalidade de culto, muitos outros terreiros surgiram derivados da Casa de Nagô, por toda a cidade de São Luís e outras localidades da região.
Jejes em São Paulo
Em São Paulo, o culto aos Voduns foi trazido em 1977, por um jovem líder da religião, Francelino Vasconcelos Ferreira ou Toy Vodunon Francelino de Shapanan, exatamente como o culto constituído no Maranhão, fundando a Casa das Minas de Thoya Jarina. De lá se ramificou por todas as partes do país, inclusive ao Norte, mais especificamente no Amazonas, onde se deu a continuidade dos ritos na Casa Reino Dahomé de Lego Xapanã, fundada e dirigida há mais de 20 anos por Toy Azondelo de Xapanã, que mantém até os dias atuais a essência adquirida por seu Toy.
Jejes na Bahia
Na Bahia, os Voduns Jeje encontraram correspondências com os Orixás Nagôs, mas constituem uma categoria de entidades espirituais diferenciada. No ritual dos terreiros de Salvador e Cachoeira, há três grandes Panteões: A Família Kaviono ou Heviosô (associada ao Trovão e ao fogo), a Família do Azonsu ou Sakpatá (associada a Terra e à varíola) e a Família de Dan (associada a cobra e ao arco íris). As famílias baianas de Heviosô e de Azonsu correspondem, a grosso modo, às famílias Maranhenses de Queviossô e de Dambirá, respectivamente. Comparando o Culto Jeje-Mahi da Bahia, e o Mina-Jeje do Maranhão, veremos diferenças nos Panteões e outros aspectos litúrgicos. Os Jeje provinham de várias províncias e pertenciam a etnias distintas - Mahi, Savalu, Fon, Mudibi - , cada uma com devoção por grupos de divindades especificas. Esses Panteões, que já na África funcionavam como cultos de múltiplas divindades, foram agregados ou justapostos no Brasil em cultos cada vez mais plurais e abrangentes.
Os Voduns
Divindades dos povos Fon ou Jeje, são forças da Natureza e antepassados humanos divinizados. Na Casa das Minas estão agrupados nas famílias Davice, Dambirá, Savaluno e Queviosso.
Alguns Voduns jovens, chamados de Toquens ou Toquenos, cumprem a função de Guias ou Mensageiros e até mesmo de ajudantes de outros Voduns. Eles chegam antes ao Terreiro e chamam os outros. Podem ser masculinos ou femininos e ter em torno de 15 anos.
Além dos Voduns, o Panteão de Divindades, também fazem parte do Panteão da Casa das Minas, as Tobossis, divindades infantis femininas que são consideradas filhas dos Voduns e se manifestam nos dançantes com iniciação plena, chamados Vodunsi-Gojaí.
Diferentemente dos Voduns, que se manisfestam em diferentes adeptos, as Tobossis são consideradas entidades únicas, exclusivas de suas Vodunsi-Gonjaí. Com a morte dessa Vodunsi que a recebia, não volta a manifestar mais.
As Famílias
- Família Davice = Reúne ou Voduns da Família Real do Abomey, do antigo Dahomé, atual Benin.
- Família de Savaluno = É uma família de Voduns amigos da Família Davice. Não são Jeje e são hospedados na Casa das Minas.
- Família Dambira = Reúne os Voduns da Terra, ligados à doenças e à cura.
- Família Queviossô = Família de Voduns considerados Nagôs, mas que não são Orixás. Entre eles apenas Nanã é cultuada nos candomblés de Orixás.
Muito obrigado pela leitura. Axé
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.