No culto do candomblé, todos os rituais remetem à natureza. Todos os Orixás mantém uma profunda ligação com os elementos naturais, e, é por meio destes que se expressam.
Ao se adentrar no dia a dia de um terreiro, é possível ver essa intima relação e todo o cuidado que se tem desde a colheita das folhas, a escolha do adepto responsável por este trabalho, até a maneira como serão armazenadas e utilizadas.
Há um cuidado todo especial que a pessoa responsável pelo recolhimento das folhas deverá ter. E esse trabalho deverá ser feito sempre pela manhã, quando as folhas ainda estão respingando o orvalho do amanhecer.A busca e a manipulação das folhas, devem ser realizadas como máximo de cuidado e atenção, para que nada ocorra de errado.
Para a comunidade do candomblé, a reverência à natureza e às divindades que nela habitam, são essenciais para que a relação do homem com esses elementos ocorra de modo natural e harmonioso.
Ao chegarem ao Brasil, os primeiros africanos buscaram reconstruir seus rituais procurando os espécimes vegetais que pudessem recriar sua identidade. E foi no Nordeste Brasileiro, mas especificamente na Bahia, que houve uma melhor assimilação dos vegetais nativos em substituição aos encontrados na África, elementos fundamentais para o culto religioso.
Nas folhas há um encantamento místico, pois, elas estão "impregnadas" de axé, que é mobilizado desde o momento da colheita, quando são entoados cânticos específicos, até sua utilização no ritual litúrgico. No universo religioso afro brasileiro, é a palavra que induz a ação, despertando o poder mágico das folhas.algumas destas folhas são estimadas pelos adeptos como capazes de estimular capacidades de determinados órgãos de nosso corpo e de remover barreiras que possam limitar a percepção, permitindo ampliar os poderes de visão, audição e inteligência. Estas são geralmente utilizadas em ritos de iniciação.
As folhas utilizadas no candomblé de forma não direta, são usadas como forma de terapia e podem produzir um poder "aversivo", afastando o mal, infortúnios, doenças e aflições, impedindo que as perturbações atinjam a pessoa que estiver sendo tratada. Já outras, se conservadas próximas, podem atrair o bem estar, saúde e a sorte, propiciando o Orixá, ou seja, são as folhas propiciadoras, que possuem eficácia universal e ação benevolente para todos. Algumas, ao contrário, dizem apenas funcionar somente em algumas pessoas, dependendo do Orixá. E ainda há aquelas consideradas "tabu", devendo-se evitar o contato, e apenas quem possui o conhecimento de seus segredos pode manipulá-las.
Algumas folhas e suas aplicações:
Aroeira = Nos terreiros de candomblé este vegetal pertence a Exú e tem aplicação nas obrigações de cabeça, nos sacudimentos, nos banhos fortes de descarrego e nas purificações de Otás. É usada como adstringente na medicina caseira, apressa a cura de feridas e úlceras e resolve casos de inflamações do aparelho genital. Também é de grande eficácia nas lavagens genitais.Arruda = Planta aromática, usada nos rituais porque Exú a indicam contra maus fluídos e olho grande. Sua folhas miúdas são aplicadas nos ebori, banhos de limpeza ou descarrego, o que é fácil de perceber, pois se o ambiente estiver realmente carregado a arruda morre. Ela é também usada como amuleto para proteger do mau olhado.
Arrebenta cavalo = No uso ritualístico esta erva é empregada em banhos fortes do pescoço para baixo, em hora aberta. É também usada em magias para atrair simpatias. Não é usada na medicina caseira.
Azevinho = Muito utilizada na magia branca ou negra, ela é empregada nos pactos com entidades. Não é usada na medicina popular.
Bardana = Aplicada nos banhos fortes, para livrar o sacerdote das ondas negativas e eguns. O povo utiliza sua raiz cozida no tratamento de sarnas, tumores e doenças venéreas.
Beladona = Nas cerimônias litúrgicas só possui emprego nos sacudimentos domiciliares ou de locais em que a pessoa exerça atividades lucrativas. Trabalhos feitos com os galhos desta planta também provocam grande poder de atração. Pouco usado pelo povo devido seu alto princípio ativo.
Avelós = Seu uso litúrgico se restringe à purificação dos Otás dos Orixás antes de serem levadas ao assentamento. É usada socada.
Beldroega = É utilizada na purificação dos Otás de Exú. Na medicina popular se utiliza suas folhas socadas para acelerar cicatrização de feridas.
Cabeça de Nego = No ritual, a rama é empregada nos banhos de limpeza e o bulbo nos banhos fortes de descarrego. Na medicina popular, combate reumatismo, menstruação difícil, inflamações vaginais e uterinas.
Abaixo, um vídeo documentário com algumas senhoras das religiões de matrizes africanas que aprenderam com seus antecessores a manipular as folhas e designar seus benefícios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.