Culto ao Tambor de Mina

Culto ao Tambor de Mina
Matinjalo meus amigos, irmãos e meus mais velhos. Me chamo Pai Jean de Xapanã e fui iniciado na Nação Mina-Jeje-Nago por Toy Voduno Francelino de Shapanan em São Paulo. Fui novice, fui vodunsi, fui vodunsirê e hoje sou Agunjai, um dos postos mais importantes dentro do Jeje ainda recebido das mãos de meu Pai. Tive a honra de ter sido o último barco de Agunjai dado por meu Pai. A última rama de Tobossi que saiu da casa de Toya Jarina. Uma grande honra poder completar essa obrigação pois, temos conhecimento que a última rama de Tobossi na casa de meu Pai, foi feita há 14 anos e, na casa de meu avó, há muito mais tempo. Em Salvador, nas casas Jeje, temos conhecimento que essa obrigação não era dada há mais de 25 anos. Isto prova a capacidade e a cultura de Pai Francelino e a casa das Minas de Toya Jarina. Dentro do Culto Jeje, sou Toy Azondelo. Tive a honra de ser o primeiro e o último Xapanan feito por meu Pai, honra essa me orgulha muito pois, um dia recebi as bençãos e a graça de Toya Jarina, pedindo para que eu fosse feito. Tive como madrinha Mãe Toya Mariana, a bela turca de Alexandria. Assim, ingressei para a família de Lego Shapanan, tornando-me filho de Francelino de Shapanan (que tinha como nome africano - Toy Akosakpata Azondeji), filho de Jorge Itaci de Oliveira ( Voduno Abê-Ka Dan Manjá), meu avô, que era filho de Maria Pia dos Santos ( Iraê Akou Vonukó). E, como tetravó, Basília Sofia ( Massionokom Alapong) que veio da África para o Brasil, da Nação Fanti-Ashanti e que aqui fundou o Ylê Axé Niamê, conhecido como Terreiro do Egito, tocando Mina Jeje-Nagô. Hoje digo a vocês: Manter a árvore genealógica, é mostrar para os outros onde nascemos, viemos e para onde vamos. Mostrando nossa identidade no Santo, é provar que temos um ancestral vivo e presente na nossa vida. Hoje ficamos muito tristes quando conversamos com pessoas da religião que não sabem sua identidade, sua ancestralidade. Se perdermos nossa identidade é como se tivéssemos perdido o nosso nome. E lembrem-se: preservar a ancestralidade é manter a tradição.Sou dirigente da Casa de Toy Lego Xapanã em Manaus. E, espero que meu Vodum abençoe todos nos dando Adoji aos nossos Oris. AXÉ AXÉ AXÉ

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Encantaria Maranhense

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D.Terezinha de Légua
O Estado do Maranhão é o berço de uma forma bem festiva de culto aos encantados. A encantaria é presente em praticamente todo o estado, tendo atravessado as fronteiras do Maranhão e chegando a estados vizinho como o Piauí e o Pará. Mas, a verdade é que muitas entidades da encantaria de mina do Maranhão podem ser encontrada em templos religiosos de cultura Afro descendente em todo o Brasil. Os maiores centros de encantaria estão comcentrados nas cidades de São Luís, Codó, Caxias, e Cururupu, todas no Maranhão.

O Terecô é a denominação dada à religião afro-brasileira tradicional do Codó, uma das principais cidades maranhenses, localizada na zona do cerrado, há mais de 300 km da capital. Está mais próxima do Piauí do que do Maranhão. De lá, se difundiu pelo Brasil, chegando à São Paulo e estados adjacentes. É também conhecido por encantaria de Barba Soêra ou Bárbara Soeira, entidade sincretizada como Santa Bárbara, e por Tambor da Mata. Embora o Terecô tenha se originado de práticas religiosas de escravos das fazendas de algodão de Codó e de suas redondezas, sua matriz africanas é ainda pouco conhecida ( Mundicarmo Ferreti, 2001). Apesar de exibir elementos tanto Jeje como Nagô, sua identidade é mais afirmada em relação à cultura Banto (angola, cambinda) e sua língua ritual é principalmente o português.


D. Mariana
 Falar de Encantaria muito me deixa eufórico pois, esta homenagem que aqui presto, me faz recordar de momentos grandiosos em minha vida no santo. Uma dessas recordações faço em jus homenagem ao meu pai Francelino de Shapanan, que tinha como dirigente de sua casa, Casa das Minas de Toya Jarina, a linda encantada Bela Turca D. Mariana, que sempre me recebeu como minha legítima mãe, me aconselhando e me acolhendo. Em suas visitas à minha casa, nunca deixou de me dar o apoio necessário para meu crescimento no sagrado. É sem dúvida, a entidade feminina mais famosa pelo Brasil afora e a que mais se destaca no Tambor de Mina. Outra entidade, e a que aqui vou relatar com mais detalhes sobre a encantaria maranhense, pertence à Família de Codó, D. Terezinha de Légua. Tenho belíssimas recordações desta filha de Seu Légua pois, minha mãe pequena, Mãe Sandra de Xandantã, na casa de Toy Jarina, recebe esta encantada e onde ela se encontra tudo vira uma festa em que ela contagia todos com sua alegria e suas conversas bem humoradas. Outra pessoa que recebe D. Terezinha e a quem tenho grande estima e que me acolheu, primeiramente como meu amigo, depois como meu pai de Encantaria, é Pai Itaparandi, da Casa Pedra de Encantaria em São Luís no Maranhão. Tive também a honra de receber esta animada Encantada em minha casa e ter o privilégio de vê-la baiar pelo salão da Casa das Minas Reino Dahomé de Lego Xapanã, trazendo sua boa energia e animação, varrendo para longe os maus fluidos.
Fachada antiga da Casa das Minas de Toya Jarina

 

Os encantados do Maranhão estão agrupados em famílias, tem nomes próprios e contam suas histórias de quando viveram na Terra. Os lugares onde eles se encontram encantados fazem referências a diversas coisas e lugares do estado como as matas de Codó, o boqueirão, ilhas e a famosa Praia dos Lençóis, onde se encontra o Reinado do Rei Dom Sebastião.

  • Família do Lençol: Encantada na Praia dos Lençóis, composta por reis, rainhas, príncipes, princesas e outros nobres e gentís;

  • Família do Codó: Família que veio beirando o mar até chegar nas matas de Codó, composta por negros, caboclos selvagens e vaqueiros;

  • Família da Turquia: Agregada a Família do Lençol, é composta por nobres de origem turca, cuja encantada mais famosa é Dona Mariana;

  • Família da Bandeira: Composta por guerreiros, bandeirantes, caçadores e pescadores;

  • Família da Gama: Composta por nobres e fidalgos orgulhosos;

  • Família da Bahia: Composta por caboclos farristas que se assemelham aos exus e pombagiras;

  • Família de Surrupira: Composta por índios selvagens e feiticeiros.

Os Codoenses são muito próximos aos Voduns Jeje (Prandi, 2001), tendo desses muitos usos nos seus costumes, como a presença do mastro central, chamado eira, a árvore da vida, o tambor vertical (rum), chamado por eles de tambor da mata.

D.Terezinha de Légua em conversa animada com Mãe Sandra
A família do Codó é muito ligada ao Vodun Nanã, também chamada de Vó Missã, e por isso tem em seus fios de contas miçangas de Nanã, além de miçangas marrons, lembrando o povo Jeje, e miçangas verdes e vermelhas, que representam o povo da mata.

 
 
 
 
Seu Légua Boji
Sr. Légua Boji ou José Légua Boji Buá da Trindade, é o pai e rei da família de Codó. É muito alegre, brincalhão e um bom apreciador de bebidas. Na cabeça de meu saudoso avô Jorge Itaci, comandava o Bumba meu Boi no Maranhão. Já no Pará, segundo Pai Francelino, se apresenta como um homem sério, tradicional e muitas vezes ranzinza.

Uma das principais filhas desse Légua chama-se d. Tereza de Légua, ou somente, d. Terezinha. É uma das maiores baiadoras do Tambor de mina, onde se desbravou em São Luís do Maranhão, na casa de Pai Itaparandi, onde sua festa é tradicional na casa e, que, em dia de festas se reúnem na casa dela pessoas de todos os cantos desse nosso brasil afora para vê-la baiar.

 Me recordo bem de uma passagem desta Encantada, quando tive a honra e o privilégio de ser convidado a ir ao Codó, por Pai Itaparandi, para a festa do Mestre Bita do Barão. E, haviam várias pessoas, cantando e dançando. Encantados baiavam por todos os lados e, quando D. Terezinha chegou, Mestre Bita, mesmo com toda sua grandiosidade e elegância, desceu de seu trono e cumprimentou d. Tereza de Légua, dando em seguida, o baiador para que ela tomasse de conta. Foi um momento fascinante para minha vivencia no Tambor de Mina pois, quando eu achava que ali, com todos dando atenção a ela, chegou com sua sutileza e deixou que os outros caboclos tomassem de conta. Naquela mesma noite, mais tarde, fomos para fora do terreiro e sentamos na porta de um hotel de Mestre Bita e, adentramos à madrugada com seus relatos sobre minha vivência na casa de meu Pai Francelino, assuntos que apenas se reportavam a mim, a d. Mariana e nossa casa. Isto é uma prova de que o Encantado sempre está com a gente. A Encantaria não tem distância e nem tem barreiras.  O Encantado é uma vivência natural, e sabe que, onde ele estiver, estará nos acompanhando e mostrando que não importa a água, nem o estado e nem o que vivemos, ele permanece o mesmo em sua essência.

 

Axé a todos. Espero que gostem desse pequeno pedaço de mim no Tambor de Mina

Para sugestões de assuntos ou dicas sobre algo que não mencionei, estejam a vontade para comentar. Obrigado

sábado, 23 de setembro de 2017

Sociedade Gèlèdè

A Sociedade Secreta Yorubá


A cultura Yorubá é estruturada em torno de seus conceitos religiosos, seus rituais relacionados e suas sociedades secretas. A devoção espiritual do povo yorubá é tão complexa e poderosa, que todas as obras de arte importantes são dedicadas a cerimonias religiosas de uma forma ou de outra.  Uma das três principais sociedades yorubás é a Sociedade Gèlèdè, que é dedicada às Grandes Mães Orixás:
Yemanjá, Oxum e Nanã.
 
A função da Sociedade Gèlèdè é manter a paz, por assim dizer, entre os humanos e as Mães Feiticeiras - Ajé. Durante a cerimônia, homens dançarinos personificam mulheres com figurinos especiais e utilizando máscaras, que são as obras de arte da escultura, mostram todo seu talento de artistas dedicados à expressão da religiosidade e da cultura yorubá. Isso, no entanto, não ocorreu sempre desse maneira.
Em tempos mais antigos, a Sociedade Gèlèdè praticava o culto de Iyámi com o objetivo de atiçar sua ira, especialmente sobre os homens. Não se conhece ao certo os rituais praticados por esta sociedade, dado ao seu alto grau de hermetismo. No entanto, sabe-se da grande influência de Gèlèdè nas comunidades yorubás e o grande respeito e temor que este povo demonstra.
Apesar de não se conhecer ao certo o que acontece nas reuniões secretas, tampouco sua verdadeira origem, há diversas lendas que falam de sua criação e de seus hábitos e rituais.
 
Dizem que, no início dos tempos, nenhuma mulher tinha acesso aos segredos de Ifá, senhor do destino e da verdade. Seu culto, aliás, era mantido à parte do culto dos outros Orixás, sendo desta forma, desconhecido dos homens, que não podiam lhe prestar as devidas homenagens. Oxum, que ficara encarregada de ensinar aos homens o culto aos Orixás, convenceu Orunmilá a desposá-la, fazendo-lhe prometer que não existiria segredos entre eles, e que ela pudesse possuir um título em seu culto.
Um dia, quando Orunmilá reuniu seus Babalaôs, Oxum adentrou ao Igbodu Ifá, um lugar sagrado, vedado à presença feminina. Orunmilá, então, com ajuda dos seus sacerdotes, iniciou Oxum no culto de Ifá, entregando-lhe uma cabaça com um único Ikin e conferindo-lhe o título de Iyá Petebi - cargo que qualquer mulher de Oxum pode ocupar no terreiros.
No entanto, Ifá apenas lhe concedeu o direito de participar da primeira parte da consagração, dizendo a ela:
" ficarás encarregada de providenciar as comidas que me serão oferecidas, assim como cozinhar as carnes dos animais que para mim forem sacrificados. Não poderás, no entanto, acessar os segredos dos Odús de Ifá. Isto porque já és demasiadamente poderosa e, de posse destes conhecimentos, imporás de tal forma teu poder sobre os homens que o mundo viverá em constante desequilíbrio. Os meus sacerdotes curvar-se-ão sempre diante do poder que possuis, e que garante a geração de todos os seres vivos sobre o planeta."
Sentindo-se enganada, Oxum foi queixar-se a Exú, pedindo-lhe que roubasse os segredos de Ifá. Exú, no entanto, não roubou os segredos de Ifá, mas criou para Oxum um jogo que continha 16 Odús principais do Opelê Ifá. Oxum, tornou-se assim, a mãe da adivinhação. Orunmilá ficou enfurecido com o ocorrido e considerou perigosas as mulheres. Chamando Exú, engendraram um plano para acabar com o poderio feminino: subjugaria as mulheres através da vaidade, levando-as a competirem umas com as outras. Executando seu plano, Orunmilá obteve sucesso, logicamente, com a ajuda de todos os Orixás masculinos que compartilhavam de seus desejos de dominar as mulheres, que foram, pouco a pouco, relegadas a uma posição inferior e, antes que percebessem, estavam totalmente submetidas as poder masculino.
No entanto, havia uma Senhora que não tinha a menor vaidade. Esta era Obá, a Guerreira. Ela foi a única a não cair nas armadilhas de Orunmilá. Percebendo o que estava acontecendo, Obá então, com intenção de recuperar o poder das mulheres na comunidade, criou uma sociedade chamada Ogbè Gèlèdè, na qual apenas as mulheres seriam aceitas.
Ao participarem dessas reuniões, as mulheres usariam máscaras para não serem reconhecidas e deixariam seus seios expostos para que nenhum homem se infiltrasse durante as reuniões.
Yemanjá, Iansã, Nanã, Ewá e Oxum eram  presenças constantes nesse culto que adorava Iyámi Oxorongá.
 
A Sociedade Gèlèdè realiza anualmente um festival em homenagem às Iyámi, onde, durante as festividades, há danças de mascarados. Apesar de não fazerem parte ativa da Sociedade, que é controlada e frequentada unicamente por mulheres, são os homens que se vestem de mulher e dançam nos festivais. Com esta dança, os homens homenageiam Iyámi e pedem por sua clemência. è sua forma de apaziguar essas divindades e demonstrar seu profundo respeito por elas.
 
O Festival Gèlèdè homenageia o poder místico feminino das Mães anciãs e das divindades femininas. O poder dessas Mães Orixás é construtivo e está relacionado à fertilidade, o conhecimento do segredo da vida, mas também destrutivo, conhecido como o poder das Mães Feiticeiras, Ajé.
É uma celebração que envolve dança, artes e músicas, prestando homenagem ao poder criativo e místico do sexo feminino a partir de seus antepassados - as Mães Anciãs.
A celebração é mantida pelo povo yorubá por ter grande significado cultural para todos, permitindo que cada um possa homenagear a contribuição que as mulheres trazem na forte herança cultural da Nigéria.
Antes do festival acontecer, uma determinada data é definida com sacerdotes masculinos notificando a comunidade sobre a localização e a data da festividade. Mensagens são enviadas por toda a comunidade para informar cantores, percursionistas e dançarinos mascarados e sobre o festival, afim de se prepararem para esse evento festivo.
Máscaras são esculpidas especificamente para a celebração, e as usadas anteriormente são trazidas de volta, formando uma grande variedade de motivos. Os artistas escultures, criam máscaras de animais, como pássaros que simbolizam os Mensageiros das Mães. Outras representam serpentes, simbolizando o poder feminino.
Além de toda a comemoração em torno da Sociedade Gèlèdè, este evento também é uma oportunidade de membros de uma mesma família se reagruparem para a ocasião das comemorações.
Na tarde Gèlèdè, uma sacerdotisa prepara a refeição para todos , de modo que, todos os alimentos, sacrifícios e oferendas possam trazer boa sorte para a comunidade.
À noite, a celebração é composta de vários dançarinos mascarados, que realizam a chamada para os deuses. A performance também inclui os percussionistas, responsáveis pela manutenção das batidas e ritmo dos tambores.
 

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Borí - A iniciação do Orí

O grande ritual de nascimento para os cultos Afro

As religiões afro descendentes sofreram algumas adaptações em seus rituais originais para que se enquadrassem melhor aos costumes e a disponibilidade de materiais que são utilizados em certas cerimonias e rituais, quando fez a migração para diversos países através de seus filhos escravizados pelos colonizadores. Um exemplo bem específico é o assunto que vos trago aqui no blog: O Borí, que é um processo inicial para a religião.
Na África, seus fundamentos são colocados em uma cabaça de cor branca e seu ritual difere em partes com o nosso. Evidente, que muito se abrasileirou. Outro exemplo, seria o assentamento dos santos. Aqui no Brasil, fazemos em louças, algumas adornadas com símbolos e cores do santo em questão, ou em alguidar feito de barro. Na África, vemos esses mesmos
assentamentos em árvores destinadas e sagradas para essa função. Claro, que o simbolismo é o mesmo em sua essência real e o sagrado entende as modificações. Com isso, perpetuamos essa linda e magnifica religião,
milenar e sacramentada em sua origem.

Agora, vamos iniciar nosso assunto de hoje:


Da fusão da palavra Bó, que em Iorubá significa oferenda, com Orí, que quer dizer cabeça, surge o termo Borí, que literalmente traduzido significa " Oferenda à cabeça".
Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode-se afirmar que o Borí é uma iniciação à religião dos cultos afrodescendentes, na realidade, a grande iniciação, sem a qual, nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio ou tornar-se um Ièsè Orisà.
Cada pessoa, antes de nascer, escolhe o seu Orì, o princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido as suas próprias potencialidades. Odú é o caminho pelo qual se chega à plena realização de Orí, portanto, não se pode cobiçar as conquistas do outro. Cada um, como ensina Orunmilá-Ifá, deve ser grande no seu próprio caminho pois, embora se escolha o Orí antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.
Exú, por exemplo, mostra-nos a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e escolher a trajetória mais adequada é a tarefa que cabe a cada Orí, por isso, o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é por intermédio do Borí que tudo é adquirido.
Os mais antigos souberam que Ajalá é o Orixá Funfun responsável pela criação de Orí. Desta forma, ensinaram-nos que Oxalá deve ser sempre evocado na cerimônia de Borí. Iemanjá é a mãe da individualidade e, por essa razão, está diretamente relacionada com o Orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.
A própria cabeça é a síntese dos caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação, que são únicas e acabam, muitas vezes, configurando-se como sinônimos, como uma fusão, começam o Orí, que ao mesmo tempo, aponta para as quatro direções:
OJUORÍ = A Testa
ICOCO ORÍ = A Nuca
OPA OTUM = O Lado Direito
OPA OSSI = O Lado Esquerdo
Desta mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, leste e oeste. O centro é a referencia, portanto, logo todas as pessoas devem-se colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta os quatro pontos cardeais: os caminhos a escolher e a seguir.
A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.
Na África, Orí é considerado um Deus, aliás, o primeiro  que deve ser cultuado, mas é também, juntamente com o sopro da vida (emi) e o organismo (ese), um conceito fundamental para compreender os rituais relacionados com a vida, como o Axexê (asesé). Nota-se a importância destes elementos, sobretudo o Orí, pelos Orikis com que são invicados.
O Borí prepara a cabeça para que o Orixá possa se manifestar plenamente. Entre as oferendas que são feitas ao Orí, algumas merecem menção especial.
Oferendas importantes no Borí e seus significados:
  • A galinha de angola, chamada Etun ou Konkém no candomblé. Ela é o maior símbolo de individualização e representa a própria iniciação. A Etun é adoxú ( adosú), ou seja, é feita nos mistérios do Orixá.  Ela já nasce com Exú, por isso se relaciona com o começo e o fim, a vida e a  morte, sendo assim, está presente no Borí e no Axexê.
  • O peixe representa as potencialidades, pois a imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade do seu próprio caminho.
  • As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e fartura.
  • Flores, que guardam a germinação, e frutas, produtos da flores germinadas, simbolizam a fartura e a riqueza.
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  • O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. É considerado o animal mais puro da natureza, o que o coloca em posição privilegiada no ritual de iniciação.
  • A noz cola, isto é, o Obí, é sempre o primeiro alimento oferecido a Orí. É a boa semente que se planta e se espera que dê bons frutos.
Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça, exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranquilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade e tudo de bom que uma pessoa possa ter para seguir prazerosamente sua vida na Terra. Mas, cabe ao Orí de cada um eleger as prioridades e, uma vez cultuado como deve ser, proporcionará aos seus filhos cada um desses elementos e muito mais. 
O culto a Orí é fundamental, pois, além de ser a única forma de cultuar, alimentar e tratar nossa alma, que é a causa de todas a nossa existência e razão, já que é na sua transcendência que reside o sentido último de tudo, também é tratando o Orí que podemos chegar à saudável conclusão de nosso destino e missão. E, até mesmo para mudar o nosso destino, é inevitável tratar de Orí. Pois mesmo como nosso 'contrato de destino' já fechado, o Awó (culto) nos diz que é possível através de Kadará, oportunidade e propiciação, mudar o nosso destino, e deixa-lo mais ao nosso gosto, e isso é absolutamente legal no que tange à espiritualidade, pois faz parte das Leis Divinas que regem o Universo e o Destino. As oportunidades podem ser verdadeiramente aproveitadas, somente mediante a Orientação Divina do Oráculo, que pode nos conduzir no aproveitamento do todas as oportunidades sem que nos traga prejuízo. Pois a nossa liberdade de ação, mais conhecida pelo termo criado por Santo Agostinho: Livre Arbítrio, somente não nos prejudica quando estamos sob orientação divina, caso contrário, nosso ego nos conduz sempre a Descaminhos de nosso destino, e assim ao prejuízo e ao sofrimento. Desta forma, é somente com o Oráculo que se pode tomar conhecimento dessas oportunidades que são verdadeiras encruzilhadas em nosso destino, e que se bem aproveitadas, podem mudá-lo por completo. Quem não se lembra de uma oportunidade em sua vida? E, com certeza, lembra-se com a tristeza de não a ter aproveitado... ou porque não notou, ou porque não  soube aproveitá-la. Kadarà é relativa à propiciação, pois  podemos através de Tratamento Espiritual adequado: através de Ebós, e sobretudo, do Borí, propiciar um Caminho em nossa vida. Pode-se nesse caso não somente mudar a sorte em relação a uma situação emergencial e conseguir o desejo desejado. Como se pode 'semear' para depois 'colher' uma determinada situação em nossa vida. E tudo isso passa sem dúvida, por Orí!
Existem vários tipos de Borí, e cada um deles para um fim específico. Somente Sacerdotes do Culto bem formados, com o seu ciclo básico de sete anos, a partir da Iniciação, tendo após a maioridade no Culto, feito as devidas obrigações litúrgicas e o treinamento espiritual e religioso exigido pelo Culto, podem efetuar qualquer Borí, mesmo o mais simples. Como viram, Orí é coisa muito séria,  e quanto menos pessoas colocarem a mão em seu Orí, tanto melhor, pois Orí é o bem mais precioso que uma pessoa possui, não deve ser confiado a todos indiscriminadamente.
O Borí se divide, a princípio, em dois tipos: Borí para restauração e Borí tratamento de Orí, e este pode ser feito até para quem não pertence ao culto, pois não cria vínculo nenhum com a religião, é tão somente um tratamento espiritual. Se subdivide ainda em outros, dependendo da necessidade.

  • Borí Omi Tutú ( Borí de Água Fresca)= é o mais simples, utiliza-se sobretudo de um Obi Tatá (obí de quatro gomos), que é o principal alimento de Orí e simboliza-o. Além do Obí, água fresca, vela e alguns outros pequenos segredos. Este Borí é realizado para as pessoas que estão com a 'cabeça quente', ou seja, com o Orí alterado, o que pode causar fortes dores de cabeça que não são curadas sequer com medicamentos; irritação e agressividade; descontrole emocional, estresse, ou ainda desgaste físico e emocional, falta de memória, de concentração, etc. O Orí alterado pode ainda prejudicar os caminhos, causando desencontros, falhas, inúmeras adversidades, incapacidade em atingir objetivos e muita perturbação. Em todas as situações, aliás, geralmente é a própria pessoa que, sem querer traz toda esta perturbação. O Borí Omi Tutú refresca o Orí, renovando as forças mentais, físicas e psicológicas, normalizando o ritmo, refrescando todas as situações e propiciando o sucesso em cada uma delas.
  • Boríejá (Borí de Peixe)= Este é o famoso Borí de saúde. Utiliza-se dos mesmos u=ingredientes e segredos do Borí anterior, mas leva ainda comidas especiais ao Orí e, como o próprio nome indica, o peixe. É muito utilizado quando a saúde não está bem e a vitalidade não pode garantir o seu estabelecimento. Assim, as pessoas muito idosas e muito abatidas podem renovar sua saúde e vitalidade, ou as que tem doenças muito graves ou enfermidades que não se curam podem recorrer a este instrumento para renovar a força e a vitalidade de seu Orí, renovando a saúde física e mental. Contudo, o Boríejá não é indicado somente para a saúde, mas é também um grande fortalecimento de Orí, podendo ajudar também nos caminhos.
  • Boríaxé (Borí de Força)= Este Borí é indicado somente para as pessoas que não se incomodam e compreendem a necessidade do sacrifício animal. E é o mais forte de todos os Boris, pois utiliza-se dos ingredientes e segredos de todos os outros citados, mais alguns segredos e o Axé do Ejé ( sangue) dos animais. Este tipo de Borí não pode ser feito com pessoas enfermas, por isso o Boríejá é a sua substituição nesses casos. Este Borí é a última instância no que tange ao Orí, e o que não puder ser conquistado ou mudado por meio desse ritual, provavelmente não poderá se conquistado em ritual algum.

Além destes Boris de Tratamento, existem os Boris de Iniciação, que se prestam somente às pessoas que ingressam no culto, pois são rituais para assentamento de Orí ( a alma) para otimizar a sua transcendência, enfim, para aqueles que desejam transcender, ainda nesta vida, o ciclo de reencarnações e residir definitivamente no Orum Rere (paraíso) junto a Olorum (Deus). Também é para fortalecer a ação do Orixá (anjo da guarda) do iniciado, pois a força do Orixá depende de quanto o Orí daquela pessoa lhe permite atuar, e para as pessoas do culto, pois é importante poder contar com toda a força, orientação e proteção do Orixá, por isso, deve-se antes de assentá-lo, propiciar o Orí, até mesmo para se obter toda a força para o assentamento de seu Orixá. É necessário que o Orí esteja forte para poder  receber e suportar toda força que o Orixá enviará até o devoto no momento do Oró (ritual). Esses rituais de Culto ao Orí são mais secretos, e somente são revelados aos iniciados no devido momento.
Enfim o ritual do Borí, é a única forma de se tratar de nosso Orí - a Alma. É um eficaz método de conduzir o nosso destino com saúde, vitalidade, muita energia e sucesso. É mais uma ferramenta disponível para o bem estar do homem, devoto e ético.
Axé a todos, longevidade e caminhos prósperos. Obrigado.
                   


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Ìyamì Osorongá

A supremacia Feminina nos cultos Afro descendentes



Iyami-Ajé / Iyá Mi Ajé = Minha Mãe Feiticeira. Também conhecida por Iyamin Oxorongá. É a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação.
Mas como tudo tem sua polaridade não poderia ser diferente com as Ìyàmìs, pois elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas.
A crendice popular atribui às mulheres mais velhas o poder das Ìyàmìs, o que não é verdade, pois, as mulheres só pelo fato da maternidade, estão todas vinculadas, desde o nascimento com as Ìyàmìs, independentemente da idade.
As Ìyàmìs são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua energia e influência.
As Ìyàmìs são frequentemente denominadas Eleyé = donas do pássaro.
O pássaro é o poder das Ìyàmìs, pois é recebendo-o que elas se tornam ajé. Nele elas se materializam, se manifestam e vagam em busca de seus objetivos afim de realizar os trabalhos para que foram designadas.
Tudo que é redondo, remete ao ventre e, por consequência, às Iyá Mi. O poder das grandes
mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.

Iyami Ajé na forma de pássaro, a coruja rasga mortalha ou coruja rasgadeira, pousa nas árvores favoritas durante a noite principalmente a jaqueira. Contam os antigos africanos que quando a coruja rasgadeira sobrevoa fazendo seu ruído característico ou aproxima-se de uma casa é porque alguém vai morrer naquele lugar.
Aulo Barretti Filho, escreve em O Culto dos Eguns no Candomblé: "Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Ìyámi Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Oxorongá chamada também de Ìyá NIa, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder da ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Gëlèdé", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino."
Para Sergio Ferretti, o culto a Naê no Maranhão pode ser comparado ao das Iyamí Oxorongá da Nigéria, Benin e outras regiões da África - mães ancestrais respeitadas e temidas, que não incorporam e que têm o poder de se transformar em pássaro. É um orixá apenas assentado para ser cultuado pela comunidade, não é um orixá de iniciação, por ser uma energia ancestral aglutinada de forma coletiva. Representa todas as mães mortas e ninguém pode incorporá-las ou manifestá-las.
 
O feitiço lançado por uma Iyami para um simples mortal, só poderá ser quebrado através de oferendas e agrados feitos especialmente para elas, por uma pessoa que tenha passado por um preparo para ser o intermediário delas em um ritual de limpeza chamado ebó. Através do jogo de búzios ou Ifá, elas irão falar o que desejam para retirar o feitiço e assim se realizará o serviço para acalmar sua ira e retirar todo e qualquer mal que possa vir a acontecer a essa pessoa.
 
 
 
 
Títulos das Grandes Iyamíns Osorongá:
Agba: Poderosa Mãe ancestral associada ao poder feminino.
Ajé: Poderosa Mãe administradora do Poder Sobrenatural. Seu culto que é realizado na lua nova e utiliza poderes sobrenaturais para combater à agressividade e feitiços. É o ciclo mais escuro da lua.
Iyá Mi Ajé = Minha mãe feiticeira também conhecida por Ìyàmìs  Oxorongá , é a sacralização da figura materna é identificada no jogo do merindilogun pelo odu Ôxê .
Ako: Poderosa Mãe que é o pássaro Ako. Título referente ao 3º dia da lua cheia e a seu culto exatamente na sociedade das Geledes. Título de quem assume o posto de primeira dama desta sociedade.
Alaiye: Poderosa Mãe proprietária de toda extensão Terrestre.
Apaki: Poderosa Mãe que mata. Uma referência ao fato que ao decorrer da vida acontece a morte.
Araiye: Poderosa Mãe que controla todos os espíritos da Terra, encarnados e desencarnados.
Arajado: Poderosa Mãe que olha para o Céu. Uma referência ao fato da Terra estar coberta pelo Céu.
Asiwòró: Poderosa Mãe canalizadora das energias nos ritos tradicionais.
Ayala: Poderosa Mãe esposa daquele que é o Céu. Uma referência ao fato da Terra ser coberta pelo Céu, o próprio Orixalá.
Buruku: Poderosa Mãe Antiga. Uma referência ao planeta na sua antiguidade existencial.
Egeleju: Poderosa Mãe dos olhos delicados.
Ekunlaiye: Poderosa Mãe que inunda a Terra com Água.
Eleje: Poderosa Mãe proprietária do fluxo da vida, o sangue.
Elesenu: Poderosa Mãe Proprietária de todos os órgãos internos, vísceras.
Eleye: Poderosa Mãe Proprietária dos Pássaros.
Ilunjó: Poderosa Mãe que dança o ritmo da morte. Uma referência ao ritmo tocado para Ogun aquele que dança o ritmo da morte.
Iya-Ori: Poderosa Mãe das Cabeças, uma alusão ao fato de estar relacionada aos rituais de sacrifício animal sobre uma cabeça. Título que é também cultuada nos ritos de borí.
Iyelala: Poderosa Mãe Senhora dos sonhos, relacionada a revelação de situações através de sonhos.
Iyemonja: Poderosa Mãe senhora que possui muitos filhos como cardumes de Peixes, uma alusão à sua qualidade anfíbia e à quantidade de seres humanos existentes na terra comparada à quantidade de peixes existentes no Mar. Título relacionado a Egun.
Iyemowo: Poderosa Mãe que é o próprio dinheiro de suas filhas, uma alusão a grande quantidade de búzios que utiliza em suas roupas. Sob este título é cultuada no culto de Orixalá.
Kekere: Poderosa Mãe pequena do universo. Uma referência ao fato de Iyami ser a administradora da vida em auxílio a Olodumare.
Koko: Poderosa Mãe Anciã, uma referência à antiguidade do planeta.
Logboje: Cabaça Existencial no Universo, uma referência ao planeta Terra.
Malè: Poderosa mãe que não permite o mal chegar na noite, uma alusão as noites que sobrevoa na sua forma de pássaro nos lugares em que é invocada e reverenciada com louvores e saudações. Título este muito reverenciado nas rodas de Xangô, Egungun, quando e enquanto dançam em volta da fogueira ao ar livre, fato memorável ao poder sobrenatural que possibilita Xangô como o grande Egungun ancestral voltar à Terra possuindo seus Eleguns durante as festividades.
Naré: Poderosa como o próprio ventre.
N'la: Poderosa grande Mãe, uma referência à grandeza do planeta Terra e seu culto elementar.
Oduwà: Poderosa Mãe proprietária do recipiente da existência, o mundo.
Oga Igi: Poderosa Mãe que faz o alto das árvores de trono. Uma referência ao fato dos Pássaros pousarem no cume das grandes árvores.
Oloriyàmi: Poderosa Mãe proprietária das águas, referência aos mares e a água do útero.
Olotojú: Poderosa Mãe que espia do alto o fato dos pássaros pairarem no ar e observarem tudo de cima.
Omolulu: Poderosa Mãe rainha das formigas, ao fato de estar associada ao subsolo, título este em que é também cultuada no culto de Obaluaiê.
Onilé: Poderosa Mãe proprietária da Terra, referente a reverencia e aos rituais realizados dentro da terra. Lugar mais próprio para se cultuar toda classe de espíritos, na qual Ela é a grande apaziguadora desses espíritos ou forças rebeldes. Numa única função de tranquilizar, apaziguar ou neutralizar qualquer tipo de força oculta agressiva.
Oru-Alé: Poderosa Mãe da madrugada e da noite.
Osupa: Poderosa Mãe que controla as forças da lua.
Osorongá: está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que Ìyàmì se sinta ofendida.
Petekun: Poderosa Mãe que é povoada, uma referência a relação com Bará.
 

Oração às Ìyamìs Osorongá
Ìyá kéré gbo ìyámi o
Ìyá kéré gbohùn mi
Ìyá kéré gbo ìyámi o
Ìyá kéré gbohùn mi
Gbogbo Eléye mo Ìgbàtí
Ìgbàmú ile
Ìyá kéré gbohùn mi
Gbogbo Eléye mo Ìgbàtí
Ìgbàmú ilê
Ìyá kéré gbohùn mi
 
 
Tradução
Pequeninas mães, ó idosas mães
Pequeninas mães, ouçam minha voz
Pequeninas mães, ó idosas mães
Pequeninas mães, ouçam minha voz
Todas as senhoras dos pássaros quando eu
Comprimo a terra
Pequeninas mães, ouçam minha voz
Todas as senhoras dos pássaros da noite
Todas as vezes que comprimo a terra
Pequeninas mães, ouçam minha voz
Iya ope I'aiye, eni ma be orixá
Mãe, estaremos sempre gratos ao mundo por vossa existência. Por isso roguemos aos orixás.
 
Obrigado a todos pela leitura. Sugestões nos comentários.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Simpatias - a crença na misteriosa força oculta que nos rodeia.

Simpatia e crenças do ocultismo

Simpatia é a maneira ritual de manipular poderes ocultos a satisfazerem a nossa vontade. Realiza-se a simpatia com um conjunto de atos e palavras preestabelecias, realizadas por qualquer pessoa não especializada que a repete sem lhe acrescentar nada, a não ser nomes dos pacientes. O ritual é proveito, preventivo e curativo. De certo modo, trata-se da arte de produzir fatos que extrapolam as leis naturais. Com a magia simpática, pretende-se ter ação sobre pessoa ou objetos distantes, por meio de uma parte, por exemplo, peças de roupa, sinal dos dentes no pão, entre outros.
Vinda da religião dos magos, a magia pretende submeter à vontade própria, a vontade de poderes superiores, espíritos, gênios, demônios, elementos da natureza e simula atuar sobre. Conforme se dirige à obtenção de efeitos maravilhosos por meios naturais ou com o auxílio das potências do mundo misterioso, magia se divide em magia branca e magia negra. A nós nos interessa particularmente a magia branca, que se utiliza de maneira indireta das forças curativas do espírito, e que atua por vários caminhos, sendo os principais a analogia e a transferência.
O segredo na maior parte das simpatias é indispensável a fé. Há outros ritos como ir a um lugar bem distante, atirar alguma coisa por sobre o ombro sem olhar, ir embora sem olhar para trás e jogar peças de roupa na correnteza, para o rio carregar. O que se nota na magia simpática, é que ela se dirige às doenças que dependem de uma tomada de forças do corpo e da alma, preparada pela reunificação da personalidade que a intensa fé provoca. Nesse caso, a coisa mágica tenta conseguir a cura de doenças que os médicos não podem debelar. Da medicina protetiva do folk fazem parte objetos que, trazidos junto ao corpo, protegem de doenças. O mais antigo é o patuá. Na origem, era apenas um pedacinho de pano contendo uma oração clara a proveniência católica. Trata-se da popularização do escapulário, tira de pano com dois pequenos quadrados de pano bento, com orações escritas, e que os religiosos traziam ao pescoço ou junto ao coração. O patuá com a oração também se chama bentinho, nome popular que corre as cidadezinhas interioranas. A aceitação do povo não se fez sem adaptações. O patuá passou a conter além de orações, palavras cabalísticas, raiz de guiné, olho de cabra, raspa do bico de anum preto. O nome também se modificou. Foi chamado de relique ou arrelique, contaminação de outro veio católico, que é o uso de relíquias, igualmente costurados em saquinhos de pano. Essas relíquias se constituem de pedacinhos de hábitos de monges canonizados, de lascas de cruzes, de cabelos, de esquírolas de ossos de santos, de pedaços de cordas e de lenha de fogueiras que consumiram mártires da fé. Hoje, patuá, relique, ou bentinho, é qualquer objeto mágico que se pendure ao pescoço ou se amarre ao pulso, desde que fechado num saquinho de pano. Escapa a essa nomenclatura o signo de Salomão, amuleto que deve ser feito antes do sol nascer, numa sexta-feira santa. Tanto pode ser portado nos bolsos, como pendurado ao pescoço. Também conserva a virtude curativa e defensiva quando pendurado atrás da porta ou à cabeceira da cama.
A seguir, algumas simpatias bastante populares para prosperidade:
Alcançar a prosperidade enquanto sonha
* Pegue seu travesseiro favorito, faça nele uma pequena abertura e coloque lá dentro uma moeda de qualquer valor (apenas para simbolizar o dinheiro), sete pétalas de rosas amarelas e um pedaço de canela em pau. Costure a abertura e todas as noites antes de dormir faça uma oração a Deus pedindo prosperidade em todos os dias da sua vida.
Prosperidade nos negócios
** Misture um pouco de mel com farinha mandioca até ficar feito farofa. Pegue na mistura e coloque em todos os cantos do estabelecimento e deixe ficar um final de semana. Quando regressar na segunda-feira, lave todos os locais onde colocou a mistura e reze 7 Pais nosso e 7 Ave Marias.
Abrir os caminhos do dinheiro
*** Em um dia de Lua Nova, logo pela manhã, compre um cadeado dourado pequeno e deixe-o sobre uma folha de louro até anoitecer. Quando terminar de tomar seu banho habitual, passe o cadeado por suas mãos e pés dizendo: “Lua, aqui está a armadura da minha riqueza, somente eu posso destruí-la ou abri-la para que mais riquezas entrem”. Enxugue os pés e as mãos com uma toalha amarela. Coloque o cadeado em um lugar em que ninguém veja e deixe-o lá pelo tempo que desejar. Jogue a folha de louro no lixo e use a toalha normalmente
Abaixo, um vídeo para boas vibrações: