Culto ao Tambor de Mina

Culto ao Tambor de Mina
Matinjalo meus amigos, irmãos e meus mais velhos. Me chamo Pai Jean de Xapanã e fui iniciado na Nação Mina-Jeje-Nago por Toy Voduno Francelino de Shapanan em São Paulo. Fui novice, fui vodunsi, fui vodunsirê e hoje sou Agunjai, um dos postos mais importantes dentro do Jeje ainda recebido das mãos de meu Pai. Tive a honra de ter sido o último barco de Agunjai dado por meu Pai. A última rama de Tobossi que saiu da casa de Toya Jarina. Uma grande honra poder completar essa obrigação pois, temos conhecimento que a última rama de Tobossi na casa de meu Pai, foi feita há 14 anos e, na casa de meu avó, há muito mais tempo. Em Salvador, nas casas Jeje, temos conhecimento que essa obrigação não era dada há mais de 25 anos. Isto prova a capacidade e a cultura de Pai Francelino e a casa das Minas de Toya Jarina. Dentro do Culto Jeje, sou Toy Azondelo. Tive a honra de ser o primeiro e o último Xapanan feito por meu Pai, honra essa me orgulha muito pois, um dia recebi as bençãos e a graça de Toya Jarina, pedindo para que eu fosse feito. Tive como madrinha Mãe Toya Mariana, a bela turca de Alexandria. Assim, ingressei para a família de Lego Shapanan, tornando-me filho de Francelino de Shapanan (que tinha como nome africano - Toy Akosakpata Azondeji), filho de Jorge Itaci de Oliveira ( Voduno Abê-Ka Dan Manjá), meu avô, que era filho de Maria Pia dos Santos ( Iraê Akou Vonukó). E, como tetravó, Basília Sofia ( Massionokom Alapong) que veio da África para o Brasil, da Nação Fanti-Ashanti e que aqui fundou o Ylê Axé Niamê, conhecido como Terreiro do Egito, tocando Mina Jeje-Nagô. Hoje digo a vocês: Manter a árvore genealógica, é mostrar para os outros onde nascemos, viemos e para onde vamos. Mostrando nossa identidade no Santo, é provar que temos um ancestral vivo e presente na nossa vida. Hoje ficamos muito tristes quando conversamos com pessoas da religião que não sabem sua identidade, sua ancestralidade. Se perdermos nossa identidade é como se tivéssemos perdido o nosso nome. E lembrem-se: preservar a ancestralidade é manter a tradição.Sou dirigente da Casa de Toy Lego Xapanã em Manaus. E, espero que meu Vodum abençoe todos nos dando Adoji aos nossos Oris. AXÉ AXÉ AXÉ

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Orixá Okò

Considerado mais um caminho de Obatalá ou mais um Orixá Funfun - Orixá do Branco. O Orixá Eteko, mais conhecido hoje como Okò, é o Orixá da Agricultura, dos granjeiros, dos inhames, das sementes, da fertilidade da terra e é também o que traz chuva para o benefício dos campos semeados É considerado o padroeiro da cidade Ijugbè, que a princípio, era uma aldeia de granjeiros. O chefe do seu culto é chamado de Obarese que, segundo a tradição, era o primeiro a plantar o inhame para que o Orixá Okò abençoasse as colheitas. Da  mesma forma, os primeiros inhames colhidos eram destinados a Okò.



História

Originário da cidade de Irawo, onde era rei, foi banido da mesma por ficar leproso, indo morar no campo com sua mulher. Daí provém o apelido ETEKO, que quer dizer: ETE= Leproso; OKO= Campo - "O leproso do campo".
Por causa de sua doença, ele cobria seu corpo, protegendo-o do sol com um longo pano branco, caminhando com dificuldade. Com a ajuda de sua esposa, construiu uma cabana de folhas de palmeira e ali os dois se estabeleceram, colhendo frutos do mato e caçando guineas (galinhas d'angola). Naqueles tempos o homem não sabia como plantar e foi por acidente que Okò descobriu a arte da agricultura, iniciando com os inhames e mais adiante com as frutas. Com o tempo,  Okò e sua esposa aprenderam a plantar ervas e a reconhecer suas qualidades medicinais. Depois de muitas provas com diferentes ervas, acharam a cura para sua doença. Depois de se curar, eles voltaram para a cidade de Irawo, onde o povo lhes acolheu com alegria fazendo uma grande festa. Okò passou então a ensinar para seu povo a Agricultura e o conhecimento das ervas medicinais e, mesmo após a morte de Okò e de sua esposa, o povo nunca os esqueceu, continuando a contar a história deste Orixá para seus descendentes. Após muitos anos, Orixá Okò foi divinizado e se tornou padroeiro dos agricultores.
Teria sido um grupo de caçadores, seguidores desse Orixá, quem fundou a cidade de Okò, levando seu culto com eles. O nome Okò, é muito mais difundido pelo fato de ser quem ensinou a agricultura, pois, a palavra "okò", além de "campo", significa plantação, semeadura, agricultura.
Uma barra de ferro enfeitada com búzios é o símbolo deste Orixá, e é entregue aos iniciados em seu culto. Essa barra (cajado do Orixá Okò), pode passar a pertencer à família e seus assentamentos podem ser herdados por um parente após a morte do iniciado, pois o culto é familiar.
No culto deste Orixá na África, somente as mulheres iniciadas - Agegún Orixá Okò - são possuídas pela divindade e tem na testa duas linhas verticais: uma vermelha e uma branca. Acredita-se que este Orixá cura a malária e outras doenças ligadas aos labores no campo. As abelhas são suas mensageiras.

Oferendas e quizilas

Suas comidas prediletas são: cabras brancas, melão cozido, vinho de milho - Oti Sèkètè, um peixe chamado Eja Abori, galinhas d'angola, inhame, farinha de inhame, mandioca e farinha de mandioca. Seus filhos não podem comer carne de animal velho, serpente e nem inhame ou mandioca novos antes que  sejam celebradas as festas para o Orixá.
É costume dos granjeiros reverenciar  com seus produtos o Orixá Okò antes de sair para vendê-los no mercado.

Iniciação

Na iniciação, os Iyawos devem ficar isolados por três meses sem poder olhar o sol; vestem -se de branco e tomam banho com água fresca todos os dias. Enfeitam seus corpos com efun (pó utilizado para pintura dos iniciados).

Lenda

Orixá Okó era um velho que desceu do Céu e vivia de suas lavouras. Ele tinha muitos filhos que moravam na cidade de Irawo. Quando seus filhos o visitavam, algumas vezes o viam e algumas vezes não.Ele caminhava lentamente, apoiado em um cajado e sentava-se para descansar. Quando ficou muito velho, seus filhos o levaram para morar com eles na cidade. Homens que carregavam o produto das lavouras do velho vinham sempre à cidade e indagavam onde ele morava. Os habitantes da cidade, intrigados, foram vê-lo, levaram-lhe presentes e honraram-no.
Um belo dia ele morreu e seu corpo desapareceu. Ficou apenas seu cajado e a este foram prestadas todas as honras que outrora eram prestadas ao velho.

Em outras histórias, Orixá Okò era um velho caçador que tinha um cachorro e descobriu a Agricultura após perceber que umas sementes enterradas por seu cachorro começaram a crescer.


Axé a todos.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ilê Axé Opó Afonjá

A Força sustentada por Xangô


Ilê Axé Opó Afonjá
Ilê Axé Opó Afonjá ("Casa sob o comando e o sustento do cajado de Afonjá") ou Centro Cruz Santa do Axé do Opó Afonjá é um terreiro de candomblé fundado por Eugênia Ana dos Santos e Tio Joaquim, Obá Sanyá, em 1910, na Rua Direta de São Gonçalo do Retiro, 557, no bairro do Cabula, em Salvador, na BahiaBrasil. O seu tombamento ocorreu em 28 de julho de 2000 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O seu livro histórico possui inscrição 559. Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Inscrição 124, número do processo 1432-T-98.


História
A história do Terreiro do Axé Opô Afonjá (outros nomes: Terreiro de Candomblé do Axé Opô Afonjá; Ilê Axé Opô Afonjá) assim como a do Terreiro do Gantois, está intimamente vinculada ao Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho.
Segundo vários autores, este terreiro serviu de modelo para todos os outros, de todas as nações. Um grupo dissidente do Terreiro da Casa Branca, comandado por Eugênia Anna dos Santos, fundou, em 1910, numa roça adquirida no bairro de São Gonçalo do Retiro, o Terreiro Kêtu do Axé Opô Afonjá.
terreiro ocupa uma área de cerca de 39.000 metros quadrados. As edificações de uso religioso e habitacional do terreiro ocupam cerca de 1/3 do total do terreno, em sua parte mais alta e plana, sendo o restante ocupado pela área de vegetação densa que constitui, nos dias de hoje, o único espaço verde das redondezas.

Espaço Organizacional

Por força da topografia do terreno, as edificações do Axé Opô Afonjá se distribuem mais ou menos linearmente, aproveitando as áreas mais planas da cumeada, tornando, no acesso principal, um "terreiro" aberto em torno do qual se destacam os edifícios do barracão, do templo principal - contendo os santuários de Oxalá e de Iemanjá -, da Casa de Xangô e da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos.
A organização espacial do Axé Opô Afonjá mantém as características básicas do modelo espacial típico dos terreiros jejês-nagôs. Esses mesmos elementos são também encontrados nos terreiros da Casa Branca e do Gantois, apenas com uma diferença: no Axé Opô Afonjá, o barracão é uma construção independente, ao passo que, nos dois outros terreiros, ele está incorporado ao templo principal.

Museu

Museu Ilé Ohun Laila (Casa das Coisas Antigas), inaugurado em 1999, está localizado no andar inferior da Casa de Xangô, reunindo a história do terreiro, e das ialorixás, com objetos de culto e roupas em exposição.
Foi designado como Patrimônio mundial em 1998.

Iyalorisás

Mãe Aninha
Eugênia Anna dos Santos
Mãe Aninha - Obá Biyi = 1909-1938

Mãe Aninha nasceu no dia 13 de julho de 1869, às 10h da manhã, em Salvador, Bahia. Filha de Sérgio José dos Santos (chamado em gurunsi Aniló), brasileiro, e Leonídia Maria da Conceição Santos ( chamada em gurunsi Azambrió), brasileira. Fundou o Ilê Axé Opó Afonjá, no Rio de Janeiro em 1895 e em Salvador em 1910. Em 1936 reinaugurou o Ilê Iyá e institui o Corpo de Obás de Xangô com Martiniano Eliseo Bonfim. Influenciou Getúlio Vargas, na promulgação do Decreto-Lei 1.202, que proibiu o embargo sobre o exercício da religião do Candomblé.






Mãe Badá de Oxalá
Mãe Badá de Oxalá
Olufan Deiyi = 1939-1941

Maria da Purificação Lopes, Mãe Badá de Oxalá, Olufan Deiyi, nasceu em Salvador em meados do século 19. Foi Iyékékeré e assumiu temporariamente os destinos do Ilê Axé Opó Afonjá em Salvador após o falecimento de Mãe Aninha. Ocupou antes do falecimento da fundadora, o posto de Baró, espécie de conselheira. Era uma expert em assuntos da religião e entendia a fundo os mistérios dos Orixás.





Mãe Senhora
Mãe Senhora
1942-1967

Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, nasceu em 31 de março de 1890, filha de Félix do Espírito Santo e Claudiana do Espírito Santo, na Ladeira da Praça, em Salvador, Bahia. É descendente da nobre família Asipá, originária de Oyó, na Nigéria , e Ketu, no Benin. Sua bisavó materna foi Marcelina da Silva, Obá Tossi, uma das fundadoras do Candomblé da Barroquinha, depois, Casa Branca de Engenho Velho, em Salvador.









Mãe Ondina De oxalá
Mãe Ondina de Oxalá
1969-1975

Ondina Valéria Pimentel, nasceu no dia 08 de fevereiro de 1916, filha de José Theodoro Pimentel. Descendentes dos fundadores do Terreiro do Mocambo e do Terreiro do Tuntum, ambos de culto aos Eguns, na Ilha de Itaparica. Foi iniciada por Mãe Aninha em 1921, na casa de seu pai, José Theodoro Pimentel em Itaparica - Balé Xangô do Ilê Axé Opó Afonjá, sucessor de Rodolfo Martins de Andrade ou Bangbosé Obitikô.










Mãe Stella de Oxóssi
Mãe Stella de Oxossi
Odé Kayodé = 1976

Em 12 de Setembro de 1939, aos 14 anos, Mãe Stella foi iniciada por Mãe Senhora e recebeu o Orukó (nome) de Odé Kayodê. Em 29 de junho de 1964 foi designada Kolabá (sacerdotisa do Culto de Xangô) por Mãe Senhora. Filha predileta de sua mãe de santo, pouco a pouco foi aprendendo os grandes mistérios e segredos do Candomblé. Em 19 de março de 1976, foi escolhida para ser a quinta Iyalorisá do Ilê Axé Opó Afonjá, conforme consta no livro de atas do conselho religioso do próprio terreiro.











Dias Atuais

Atualmente, este terreiro, continua suas atividades com grande influência  sobre outros terreiros pois virou um exemplo a ser seguido. Mãe Stella, falecida aos 93 anos no dia 27 de Dezmbro de 2018, soube se posicionar perante o Brasil inteiro, em meio a tanta discriminação que nossa religião sofre, se tornando a Iyalorisá mais influente de todos os tempos. Escreveu o livro O que as folhas cantam (Para quem as folhas cantam), participou de inúmeros congressos afro religiosos, entrou para Academia Brasileira de Letras, e seu nome é reverenciado por todos que participam ou não desta religião. Artistas famosos e políticos lhe prestam  homenagens e sabem do poder que esta mulher tem para a nossa cultura. 
À nossa querida e estima Mãe Stella de Oxóssi, receba de todo o povo que lhe admira, o axé do amor, o axé da saúde, o axé da felicidade, o axé da paz e o axé do Sagrado e que as bençãos dos nossos Santos recaiam sobre seu nome. Exemplo de força e virtude para nossa religião 



Axé

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Oxum

Dona do Ouro, Senhora das Águas

Templo de Oxum em Òsógbó, Nigéria
Na Nigéria, mas precisamente em Ijésá, Ijébu e Osogbò, corre calmamente o rio Osún, morada da mais bela Iyabá, a rainha de todas as riquezas, protetora das crianças, mãe da doçura e da benevolência. Generosa e digna, Oxum é a rainha de todos os rios e Cachoeiras. Vaidosa, é a mais importante entre as mulheres da cidade - a Ìyálódê. Também atua sobre a fecundidade e é dona do grande poder feminino. Paciente e bondosa, é a mãe que amamenta e ama.
Filha predileta de Oxalá e Iyemanjá, nos mitos foi casada com Oxóssi, Xangô e Ogun. Seduziu Obaluayê para afastar a peste do reino. Foi a segunda mulher de Xangô e deusa do ouro, da riqueza e do amor. Foi a rainha de Oyó, sendo sua preferida por sua jovialidade e beleza.
Depois de se tornar Ìyálòdé (chefe de todas as mulheres), Oxum passou a representá-las e recorreu às Ìyamí Òsòròngá (Mães Ancestrais), detentoras do poder feminino.

Rio Oxum, Òsógbó

Lenda

Templo de Oxum em Òsógbó, Nigéria
Entregando-lhes oferendas, Oxum pediu e auxílio das Ìyamí Àjé (Mãe Feiticeira), que lançaram o àjé em todos os homens que, a partir de então, passaram a não mais defecar e urinar porque suas vísceras não funcionavam normalmente. Até os animais do sexo masculino foram atingidos. Homens e animais começaram a passar mal, pois eles comiam e bebiam, mas estavam impedidos de fazerem suas necessidades fisiológicas. Esta situação durou sete dias. Os seres do sexo masculino começaram a morrer, o que preocupou os Orixás, que resolveram consultar Òrúnmìlà (sacerdote supremo do Oráculo de Ifá).
Então o Babaláwo Òrúmílá consultou o oráculo para responder a todos os orixás, oportunidade na qual respondeu o odu Osé Ireté. Òrùnmílá recomendou, então, que quando eles fossem realizar oferendas na mata sagrada deveriam convidar uma mulher que estava esperando um filho, esta mulher era Oxum. E, se ela concordasse em acompanhá-los, tudo voltaria ao normal, e tudo voltaria ao normal, e todos ficariam curados daquele grande mal.
Seguindo a recomendação do Babaláwo, eles foram até Oxum, que estava se banhando à beira do rio, e a convidaram para fazer parte das oferendas. Ela ouviu as súplicas dos Orixás masculinos e, mesmo com muita vontade de aceitar o convite, se negou a participar alegando que ela e todas as mulheres estavam cansadas de serem tratadas como escravas dos homens, ressaltando que a mulher participa da criação da vida e, por esta razão, tinham o direito de intervir e decidir por ela. Diante da negativa, imploraram a presença de Oxum. Vendo que todos os homens estavam passando muito mal, Oxum resolveu acompanhá-los nas oferendas, mas com uma condição: Todos os orixás masculinos deveriam passar um pouco de seus poderes para a criança que ela estava esperando, e que deveriam rezar muito para a criança nascer do sexo masculino, pois, se a criança que estava dentro dela nascesse menina, os homens ficariam subalternos às mulheres.
Os Orixás masculinos ficaram preocupados, pois acreditavam que a condição imposta por Oxum poderia colocar em risco a existência e que nada deste mundo daria certo para todos os homens. Por outro lado, pensavam que se nada fizessem, todos os homens morreriam, o que os obrigou a aceitar a imposição de Oxum para acompanhá-los até a mata sagrada.
Sem saber como passar parte de seus poderes para a criança, os Orixás voltaram a consultar Ifá, quando então respondeu Òdú Odisésésó (mensageiro do nascimento). Desta forma, o Babaláwo aconselhou que todos os Orixás fossem pela manhã à casa de Oxum e impusessem as mãos no ventre dela dizendo o seguinte: "Que de mim, passe para esta criança um pouco de meu poder". Deveriam fazer isso até que a criança viesse ao mundo para garantir que ela fosse do sexo maculino. Recomendou ainda que os homens deveriam aprender a respeitar as mulheres. Exu, Ogun e todos os Orixás masculinos seguiram para a casa de Oxum e fizeram o que lhes foi recomendado pelo Babaláwo, até o dia do nascimento da criança. Imediatamente as funções intestinais, os rins, o fígado e a bexiga dos homens e animais do sexo masculino voltaram a funcionar. A partir daí, as mulheres passaram a ser respeitadas e temidas como feiticeiras.
No dia do nascimento da criança, todos os Orixás masculinos ficaram em frente à casa de Oxum para saber qual seria o seu sexo. Esperaram por muito tempo até Oxum apresentá-la para o Egbé (comunidade): era um menino, para alívio dos Orixás  do sexo masculino.
Todos os Orixás cantaram e louvaram a existência e gritaram assim: Urra to to to! ( estamos salvos). A partir desse dia, os Orixás masculinos não faziam mais oferendas sem convidar e levar suas esposas e todas as mulheres.
O Babaláwo consultou mais uma vez Ifá e respondeu o Òdú Oturá, nome que eles propuseram à criança. Levaram a proposta para Oxum, que não concordou e se preparou para fazer imposições. Nesse momento, um pássaro posou no filá (espécie de chapéu) que estava cobrindo a cabeça da criança e se curvou.
Aquele sinal significou  que a criança tinha o poder de apaziguar até as Ìyamí Àjé, razão pela qual Oxum atendeu parcialmente a proposta dos Orixás e deu à criança o nome de Osé Oturá: a criança tem o poder de todos os Orixás. O garoto ficou conhecido como o 17º Odú do jogo de Búzios e, a apartir de então, esse Odú passou a intermediar as mensagens e oferendas para todos os outros. Apenas ele tem o poder de entrar e sair do Orún, quando e como quiser, sem ser perseguido pelas Ìyamí Àjé.

Características dos Filhos de Oxum

Templo de Oxum em Òsógbó, Nigéria
Talvez ninguém tenha sido tão feliz em definir  a filha de Oxum como o pesquisador francês Pierre Verger, que escreveu: "o arquétipo de Oxum é das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas caras, das mulheres que são símbolos do charme e da beleza. Voluptuosas e sensuais, são, porém, mais reservadas que as de Iansã. Elas evitam chocar a opinião pública, o qual dão muita importância. Sob sua aparência graciosa e sedutora, escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social".
Os filhos de Oxum são mais discretos, pois, assim, como apreciam o destaque social, temem os escândalos ou qualquer coisa que possa denegrir sua imagem de inofensivos e bondosos que constroem cautelosamente a imagem doce que esconde uma determinação forte e uma ambição bastante marcante. São muito sensíveis a qualquer emoção, calmos, tranquilos, emotivos, normalmente tem uma facilidade muito grande para o choro.

Os Caminhos de Oxum

Òpará: É relacionada como uma qualidade de Oxum devido a similaridade dos cultos, mais alguns Itans afirmam se tratar de uma Divindade à parte, criada por Oxum, mas filha de Obá. Nasceu da união do raio com a água; tem características de Oyá e das turbulentas águas de Obá. A maternidade, que é uma das marcas de Oxum, não é vista em Òpará. É uma das mais temperamentais das Ìyabás; é indomável e poderosa, unindo força e vaidade. Rege os ventos da noite, a umidade do ar e as águas puras.

Ajàgurá: Senhora de todas as aves, uma linda guerreira. Esposa de Aganjú, traz a espada junto ao Abèbè. Uma Oxum jovem que veste dourado claro. É a responsável  pela Ekodidé, a pena sagrada.

Ìpondá: Governa a criação infantil, sendo a verdadeira mãe de Lògún-Edé, a menina dos olhos de Òrúnmilá, que retém o conhecimento do Merìndinlògún e também senhora da inocência. Monta a cavalo, de onde originou-se o mito de que essa Oxum, pega o seu cavalo e, com sua espada, sai batendo de porta em porta desafiando quem encontrar para um duelo. Tem ligação com Ogún, Oyá, Odé e Òsògiyán; traz òfanjé, ábèbè,  uma lira e òfá.

Oxum Òkè: Senhora das montanhas, caçadora amazona, grande observadora e extremamente perigosa quando zangada. É filha do Rei Ókè e Ìyémánjá, caçadora e astuta, essa qualidade está ligada às matas densas e geladas e aos animais peçonhentos. Mora nas fontes que brotam no alto das montanhas e é dona da lama avermelhada que escorre dos montes.

Oxum Karé: Muito guerreira, representa o culto à beleza e à vaidade feminina, é descrita como " o Espírito que se reflete no espelho", motivo pelo qual está permanentemente se admirando na superfície de um espelho, do qual não se separa nunca. É aquela que auxilia todo e qualquer movimento ligado à abundância e à fertilidade. Muito bonita, jovem, autoritária e agressiva. Traz ábébé e òfá. Veste-se de azul, amarelo e ouro.

Oxum Merin: Senhora responsável pelo Kélè e pela criação do Ìyawó nesse período. Foi esta Oxum quem iniciou o primeiro Ìyawó. Elegante e vaidosa como qualquer uma outra Oxum, traz o ábèbè dourado; suas contas e vestes são dourado e amarelo-claro. Possui ligação com Ìyewá. Seu àbèbè é em forma de arpa.

Oxum Àbotò:  Muito feminina e vaidosa, está relacionada ao parto e ao nascimento, ajudando as mulheres a terem filhos. É a primeira Oxum, a Ìyálòrísá de todos os iniciados. Ela deu origem ao nome da cidade de Òsógbó. Geralmente seus filhos tem relação com Àbìkús. É a ela que devem se dirigir todas as mulheres que queiram dar à luz ou que procuram saúde para toda a gestação.

Oxum Ìjímú: Mais velha, impaciente; sistemática e silenciosa, ostenta o título de Ìyálòdè. Possui estreita ligação com as Ìyamí Àjé. É senhora dos Òkútá e responsável por tudo o que vive no fundo dos rios. Essa Oxum tem o poder de segurar uma gravidez conturbada ou mesmo impossível. É considerada pelas tradições de algumas casas, como uma forma de cultuar Ìyamí.

Ataoja de Osogbo, Oba Jimoh Olanipekun (Monarca na cidade de Oxum)



Axé axé axé

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Livros Relacionados à Cultura e Religião Afro em PDF p/ Downloads

"A educação é a arma mais forte que você pode usar para mudar o mundo"

Nelson Mandela

Alguns livros, que já se encontram disponíveis na web, irei deixá-los para vocês fazerem o download à vontade. Afinal, a leitura engrandece nosso conhecimento e enriquece nossa cultura. Basta clicar na capa e visualizar o texto na página que irá abrir.

Axé a todos!
  • História e Cultura Africana e Afro Brasileira na Educação Infantil

No ano de 2014, uma parceria de peso entre a UNESCO, o MEC e a Universidade Federal de São Carlos se formou para elaborar um livro especial para a Educação Infantil: História e cultura africana e afro-brasileira na educação infantil.
A publicação para download gratuito tem como objetivo inserir conteúdos que relacionem a história e a cultura da África e dos afro-brasileiros no currículo da educação básica.
O livro elege duas práticas culturais para realizar trabalhos pedagógicos que privilegiem a expressão africana e a realidade afro-brasileira: o Projeto Espaço Griô e o Projeto Capoeira. Ambos os projetos trabalham com o desenvolvimento humano muito presentes na educação infantil: a oralidade, a corporeidade, a musicalidade, o ritmo e a sociabilidade.

  • A Matriz Africana no Mundo


Sankofa é um dos adinkra, conjunto de ideogramas que compõem a escrita dos povos akan, da África ocidental. Significa que nunca é tarde para voltar e recolher o que ficou para trás. A questão do retorno pauta esta obra do início ao fim, e seus textos valorizam a experiência pregressa como condição essencial ao desenvolvimento futuro. A coleção Sankofa - Matrizes Africanas da Cultura Brasileira tem a intenção de resgatar e atualizar o rico conteúdo de pesquisas e reflexões produzidas no contexto das atividades do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). O resultado é uma edição que reúne textos de estudiosos da temática africana no mundo. Buscando valorizar uma identidade que reflita a história brasileira, a coleção fala não apenas aos afrodescendentes, mas a todo o país, que herdou as tradições advindas da África - hoje profundamente arraigadas em sua cultura.
  • Lendas Africanas dos Orixás
                                                Lendas Africanas dos Orixás

Apresenta um conjunto de lendas, todas elas recolhidas e pacientemente anotadas por Fatumbi, a partir das narrativas dos adivinhos babalaôs. Vale lembrar, entretanto, que as lendas aqui apresentadas não constituem senão uma pequena parcela do imenso universo de histórias que um adivinho é obrigado a memorizar no decorrer de seu aprendizado. Histórias que constituem, todas elas, testemunhos diretos e espontâneos da cultura ioruba, cuja influência na nossa cultura faz-se sentir de maneira tão acentuada.


  • A Mitologia Dos Orixás Africanos
 A Mitologia Dos Orixás Africanos



coletânea de àdúrà (rezas), ibá (saudações), oríkì (evocações) e orin (cantigas) usados nos cultos aos orixás na África : em Iorubá, com tradução para o português



  • Os Nagô e a Morte
 Os Nagô e a Morte

A obra se propõe examinar e dissolver algumas interpretações sobre a concepção da morte, suas instituições e seus mecanismos rituais, tais quais são expressos e elaborados simbolicamente pelos descendentes de populações da África Ocidental no Brasil - particularmente na Bahia, nas comunidades, grupos, e associações que se qualificam a si mesmos de Nago e que a etnologia moderna chama de Yorùbá.


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Jurema

A Árvore Sagrada e seus Ritos 


De sua casca e raízes é preparada uma bebida sagrada que possibilita ao homem encarnado o contato com "seres do outro mundo" - O Mundo Espiritual. A árvore em si é um símbolo sagrado; foi, e ainda é, o centro das práticas religiosas de épocas longínquas. No Nordeste brasileiro, se fazia e se faz uso da bebida da Jurema Sagrada em práticas de rituais religiosos. Assim como em várias cidades pelo Brasil afora.

Histórico

Conhecida popularmente como Jurema, essa espécie de Acácia, classificada cientificamente como Mimosa Hostilis, é uma árvore que em tempos remotos foi utilizada para caçar e guerrear entre os índios do Nordeste. Hoje continua sendo utilizada em práticas de magia. 
A Jurema é a "Acácia dos Mistérios e sempre foi, desde a antiguidade, considerada uma árvore sagrada por muitos povos, que tinham por ela verdadeira adoração - Hindus, Indo-Iranianos, antigas tribos árabes, pré-povos islâmicos e também as antigas tribos de Israel. Também é considerada sagrada por Maçons e Rosacruzes; estes últimos creem que a madeira utilizada na confecção da cruz de Jesus Cristo era de uma acácia.
Existem dezenas de espécies de Acácia que contém em suas raízes e casca as substâncias chamadas de "triptaminas", por isso sempre foram utilizadas em rituais mágico-religiosos no preparo da bebida que levasse ao "êxtase religioso".

Culto à Jurema

Difundido no sertão nordestino, chegou às cidades no litoral encontrando-se com elementos étnicos diversos, incorporando e dando um outro significado ao culto: a ligação entre  o  mundo material e o espiritual, permitindo com isso a aquisição da sabedoria, criando uma mitologia com influências cristãs. Segundo o pesquisador Câmara Cascudo, a árvore da Jurema foi capaz de esconder a "Sagrada Família" dos soldados do Rei Herodes, quando esta fugia para o Egito.
Dentro da religiosidade popular, a tradição antiga foi ganhando influência de elementos africanos e europeus.

"Abrindo a mesa, com luz e amor
Abrindo as portas do Juremá
Chamando os Guias para trabalhar"

Esse cântico dá início a uma Sessão de Jurema, chamando os "Mestres do Mundo Espiritual" para virem até o mundo dos vivos. Para os Juremeiros, esse Mundo Espiritual se chama "Juremá", e é composto de reinos, cidades e aldeias, onde residem  Mestres e Caboclos.
No Culto à Jurema, os Caboclos são Entidades de origem indígenas e trabalham principalmente na Cura; eles recebem ervas para banhos e defumações, que fazem parte de um conhecimento milenar. Também dão passes e benzem com ervas e folhas Nas Mesas de Jurema, os Caboclos costumam ser identificados como "Príncipes".
Outras Entidades que trabalham no Culto à Jurema são os chamados "Mestres", termo que, segundo alguns pesquisadores, tem origem portuguesa, no sentido tradicional de médico ou curandeiro. São Espíritos que descendem da miscigenação entre índios, negros e brancos, que vêm ao mundo dos vivos como curadores das mazelas físicas e espirituais do homem encarnado. Se dizem iniciados na "Ciência da Jurema", outros aprenderam a curar no momento da morte, por esta ter ocorrido próximo à árvore sagrada. Existem muitos Mestres e Mestras, cada um com uma responsabilidade dentro dos diversos campos da existência material. Nas Mesas, essas Entidades são representadas de acordo com sua categoria de trabalho. Pelos adeptos do culto, são carinhosamente chamados de "Padrinhos".

As Oferendas

Os Mestres costumam receber bebidas, que nunca devem faltas nos cultos, o fumo - em charutos ou cachimbos - e alguns alimentos preparados com frutos do mar. Essas oferendas agradam e fortificam a firmeza e a vibração dos Mestres Juremeiros.
Durante o transe mediúnico, os Mestres costumam se apresentar com o corpo ligeiramente voltado para a frente e com os joelhos flexionados. As Mestras são facilmente reconhecidas por seus assentamentos - onde figuram os leques, bijuterias, cigarros e cigarrilhas. Existe uma grande quantidade de Entidades Femininas na categoria de Mestras, que possuem atributos e personalidades ligadas ao Mundo Espiritual e material. Algumas por terem morrido virgens, receberam o status de "Princesas". Algumas Mestras e Princesas - Mestra Marianinha, Princesa Catarina e Princesa Rosa Vermelha.

"Sou Princesa da Rosa Vermelha
Sou Princesa que vem ajudar
Sou Princesa dos campos de Anadir
Meu ponto venho firmar"

" Vinde, vinde, vinde minhas irmãs
Vinde, vinde, vinde me ajudar
Eu sou Princesa Elisa
Meu ponto venho firmar"



As Mestras costumam ser muito vaidosas; quando incorporam, fazem com que suas médiuns se vistam de forma que as possibilitem se aclimatar na "matéria", com performances femininas.
Outras Entidades que se manifestam no Culto - Além dos Mestres e Caboclos costumam descer na Jurema, mas com menos frequência, os Pretos e Pretas -Velhas. Aí entra a influência africana dos Espíritos que são ótimos benzedores e conselheiros.
Juntando-se a este Panteão, temos os santos católicos, muito respeitados e reverenciados pelos Mestres e Caboclos, como podemos verificar em alguns de seus:


" Minha Santa Terezinha
Vós queira me ajudar
Os trabalhos que eu fizer
Outros não possam desmanchar
Sou Caboclo da Jurema
Só faço o bem , não faço o mal"

Os Rituais: 


Juremação

Dentro do culto são realizados alguns rituais para a fortificação da corrente dos Mestres e passar conhecimento aos discípulos - Os Juremeiros. Um dos rituais, bastante simples, mas que  contém grande sabedoria, é a Juremação ou Implantação da Semente - planta-se no corpo do discípulo, por baixo da pele, uma semente da árvore sagrada. Para se chegar à Juremação dos discípulos, são necessários três procedimentos:

- O Mestre Espiritual se responsabiliza pela implantação da semente;

- O Líder Religioso - Juremeiro - inicia um ritual especial, dando seus afilhados a semente e o vinho de Jurema para beber. Após esse ritual, o iniciante não deverá manter relações sexuais durante sete dias. Nesse período, durante todas as noites será levado em sonho por seus Guias Espirituais, para conhecer as cidades e aldeias onde residem. Ao fim dos sete dias, a semente ingerida pelo discípulo deverá aparecer em outra parte do corpo, embaixo da pele.

- Por fim, O Juremeiro implanta a semente da Jurema, por meio de um corte, sob a pele do braço.
Junto a esse ritual há a "Ciência do Cachimbo", que dará força ao iniciante em suas cachimbadas. É realizado o ritual pelo invertido do cachimbo - a fumaça é jogada pelo tubo sobre a pele do braço, até que o calor queime o local.


Tombo da Jurema

Muitos Mestres que hoje estão no Mundo Espiritual passaram por este ritual para ganhar "ciência". Eles tombaram ao pé da Jurema, e quando acordaram, estavam prontos para o trabalho. Foi assim com o Mestre Carlos, famoso por seu dom de curar na Mesa da Jurema.

"Cada Jurema é uma Jurema" - Há muitas  formas de se trabalhar dentro da "Ciência Espiritual". Alguns trabalham na Jurema de Mesa, em que os discípulos sentam ao redor e, em cima delas, assentados, alguns príncipes e princesas. Louva-se o nome de Jesus Cristo e exalta-se o poder da Jurema Sagrada; geralmente recita-se a oração católica "Prece de Cáritas", abrindo a sessão.
A Mesa pode ser aberta pela direita ou pela esquerda;
Pela direita, só Entidades elevadas se fazem presentes - Caboclos, Príncipes, Princesas e Mestres - todos Entidades de muita luz. Dão passes, receitam banhos e defumações, cantam seus pontos e afirmam sua força na Jurema Sagrada.
Quando se abre uma Mesa "pela esquerda", todo tipo de Entidades Espiritual pode vir. Não se visa necessariamente o mal de ninguém, mas todos os males podem ser devolvidos aos inimigos em trabalhos feitos por esse lado da "Ciência Juremeira".
Alguns terreiros não realizam sessões em torno da Mesa, mas próximo da Mesa/Altar onde estão assentadas as Entidades da casa. As Entidades são chamadas, são feitas orações e saudações a canta-se para abrir a sessão e chamar os Guias.Canta-se para Malunguinho (Também conhecido como Exu da Jurema); depois, canta-se para todos os Caboclos do Juremá: Cabocla Aurora, Índio Tupi, Sete Flechas, Caboclo Guaraci, os Tapuias e os Canindés e para a própria Cabocla Jurema. Os discípulos pedem benção aos Juremeiros mais velhos e saúdam a Mesa de Jurema e os Mestres. Está aberta a "Sessão de Jurema" - Os Mestres começam a chegar.


Axé a todos

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Kimbanda

O lado oposto à Umbanda

História


Foi precisamente no século XVI que os primeiros navios negreiros aportaram no nordeste do Estado da Bahia, trazendo-nos os primeiros negros que, na qualidade de escravos, vinham destinados a trabalhar na lavoura.
Esses pobres negros, oriundos de diversas regiões africanas, ao se sentirem isolados, enxovalhados e obrigados a trabalhar unicamente para o "senhor" branco sob o látego dos chicotes, lamentavam os seus sofrimentos por meio de preces e pedidos aos seus deuses, para que minorassem as agonias e as dores, entregando-se a rituais próprios, oriundos das civilizações passadas, dos povos que cultuavam seus Orixás cantando suas vitórias, enfim, evocando as Entidades Superiores do Astral. 
Foi assim que na primitiva história de nossa civilização na colonização de nossas terras, na catequização de nossos índios que, junto aos jesuítas, aqui apareceram os negros: Nagôs ou Iorubás, Jeje, Bantus, Barbadianos, Luandas, Guinés, Malés, Angolas, etc., e com eles seus cultos religiosos.

Ramificações

Do culto Jeje, então surgiu o "Ambequerê-Kibanda" que, com a designação de grandes feiticeiros evocavam os poderes da alta magia na incorporação das seguintes Entidades:

- Ambequerê: Por analogia , traduzido como Deus do Bem , ou As Forças do Bem.

- Kibanda: Pela junção de duas palavras: Kim, com a denominação de Demônio e Banda, significando lado, lugar, etc., traduzido como Deus do Mal ou as Forças do Mal, lado oposto ao bem.

Conclui-se, então, que os negros praticavam duas modalidades na interpretação de seus rituais. Uma, na prática do bem, quando desejavam os benefícios e as honras de seus chefes; a outra, quando pretendiam castigar aqueles que contra eles se manifestavam, impondo-lhes castigo, sofrimento, etc.; ou quando desejavam que as "forças do mal" destruíssem seus inimigos, quer em guerras ou em demandas espirituais.
No termo "Kibanda", foi suprimido o "m" da palavra "Kim" (demônio) ao juntar-se à palavra "Banda" (lado), pelo fato da má interpretação dada pelos índios, que, nada conhecendo dos dialetos africanos, sentiam dificuldades em pronunciá-la devido à sua linguagem simples. 

Com a fusão, ou melhor, com a mistura entre as culturas de caboclos e negros, surgiu mais tarde o culto Bantu-ameríndio, misturando-se dessa forma a crença entre os dois povos.
Com a união dessas falanges negras, misturadas aos habitantes da nossa terra e, ainda, em comunhão com os portugueses colonizadores que viviam em contato direto com caboclos e negros, deu-se finalmente o sincretismo ou mistura de todas essas crenças religiosas, formando-se um complexo perfeito entre Catolicismo, Nagô, Bantu, Jeje, Tupi, Guarani, Malé, Ameríndio, etc.

Por sua vez, com o desaparecimento da maioria dos escravos e pelo fato de não terem deixado nada escrito com relação aos seus cultos, a não ser o que diz respeito aos cultos praticados, suas lendas e rituais, esses trabalhos foram aos poucos sendo modificados e assim, surgiu dessa fusão de práticas o que hoje se conhece com o nome de Candomblé.

Com a expansão dessa gente pelos diversos estados do Brasil, alguns procuraram manter as antigas tradições desses cultos, ao passo que outros tomaram novos rumos. Assim, na Bahia, permaneceu e permanece o Candomblé, que procura manter, quase que integralmente, os rituais de seus antepassados escravos, tornando-se, na realidade, uma religião inteiramente fetichista, embora nada tenha haver com o que se denomina "Umbanda".

O Candomblé cultua o seu conjunto de divindades baseando-se nas lendas que conheceram através de um passado de sofrimentos e suplícios, dos quais foram protagonistas os seus próprios ancestrais. Por outro lado, os negros que se mudaram para os outros estados, principalmente o Rio de Janeiro e adjacências, procuraram dar outro cunho aos seus cultos religiosos.

A Umbanda

Surgido primeiramente no estado da Bahia, oriundo da mistura de rituais praticados pelos escravos que ali aportaram, ramificando-se através dos estados circunvizinhos foi, pelo próprio povo, erroneamente denominado de Umbanda e, pelo fato da pluralidade desses cultos, o termo também se pluralizou, infelizmente denominando-se "Umbandas" , todos os cultos fetichistas que são praticados no Brasil.

O Candomblé não deixa de ser uma religião, ou seja, é uma religião, pois se assemelha às outras que praticam rituais evocativos das Entidades dos planos astrais superiores e inferiores, nas quais se acredita na existência de seres sagrados e onde se encara o fundamento da fé.

A Quimbanda

Aproveitando apenas a segunda parte do nome Ambequerê- Kibanda, isto é, o nome Kibanda, este foi deturpado para  "Quimbanda", e procuraram desenvolver o ritual apenas na prática da maldade, dando origem o que atualmente é conhecido também com o nome de Magia Negra.
Surgiu, dessa forma, uma nova religião no Brasil, na qual os seus praticantes, a maioria composta de elementos incultos e maus, procurou criar em torno dessa nova seita um mito de que suas práticas eram dedicadas exclusivamente à evocação das falanges de Exus, Entidades essas dirigidas pelo Agente Mágico Universal.

O Espiritismo

Em virtude do aparecimento no Brasil da doutrina surgida na França, baseada na concepção filosófica de Allan Kardec e que se denominava Espiritismo, na qual se confirmava a presença dos espíritos dos mortos nas reuniões realizadas com o fim de evocá-los, alastrou-se pelo Brasil inteiro a crença no sobrenatural e, por fim, inconscientemente denominou-se de Espiritismo a todos os rituais e crenças trazidos pelos negros africanos.

Passaram-se os anos... O homem branco, procurando interferir e intrometer-se com os negros, aproveita grande parte dos rituais praticados nos Candomblés, nos Cangerês e mesmo na Quimbanda e, com o advento da Lei Áurea, busca melhores desígnios nessas crenças, concebendo o que hoje, erroneamente, conhecemos com o nome de Umbanda, que alguns escritores querem fazer crer, também oriunda dos povos africanos.
Ao ser dado o nome de Umbanda a essa reunião de credos, nos quais se encontra o Espiritismo de Kardec, os cultos Nagôs, Bantu, Jejes, Malês, Luandas, Ameríndios, etc., inclusive o próprio Catolicismo, criou-se tal confusão que se torna sumamente difícil retirar-se esse nome da religião, que se alastrou de tal modo pelo Brasil inteiro que seria preferível continuar como está, afim de que não surjam maiores complicações e maiores embaraços aos seus praticantes e adeptos.
É preciso, entretanto, que se separe o joio do trigo, pois, surgirá no futuro uma nova religião que, baseada verdadeiramente nos princípios e ensinamentos do Mestre, dedicando-se ao culto das evocações com o mundo astral superior, terá a denominação de Espiritualismo.
Essa será a verdadeira Doutrina a ser seguida, aquela que Jesus Cristo praticou e a única que permanecerá sobre a face da Terra, de vez que todas as demais religiões desaparecerão e se fundirão nela.


Axé a todos